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Boehme (EJC:I,1-4) – Reconhecer Cristo
domingo 20 de março de 2022
tradução desde Saint-Martin
Capítulo I - Que a pessoa de Cristo , assim como sua encarnação, não podem ser reconhecidas pela sagacidade natural ou pela letra das Santas Escrituras , sem a iluminação divina. E ainda, da origem do eterno Ser divino.
1. Cristo tendo demandado a seus discípulos: “Que dizem as pessoas que o filho do homem é?” Eles lhes responderam: “Uns dizem que tu é Elias , outros que tu és João Batista ou um dos profetas”. Então lhes perguntou: “E vós, que dizeis que eu sou ?” Pedro lhe respondeu: “Tu és Cristo, o filho do Deus vivo”. E Ele lhe respondeu: “Em verdade, a carne e o sangue não te manifestaram isso, mas certamente meu Pai que está no céu; e Ele lhes anunciou, ali mesmo, seus sofrimentos, sua morte e sua ressurreição” (Mat. XVI, 21), Para lhes fazer ver que a razão própria, sagacidade e sabedoria mundanas, não poderia nem reconhecer nem compreender a pessoa que era Deus e homem; mas que frequentemente ele só seria bem conhecido daqueles que se entregassem inteiramente a Ele, e que, pelo amor Dele, suportariam a cruz, a aflição e a perseguição, e se ligariam a Ele com ardor. O que de fato sucedeu, pois quando ainda estava visível entre nós, no mundo, ele foi raramente reconhecido da sagaz razão, o que tenha feito de milagres, a razão exterior foi tão cega e pouco inteligente, que tais grandiosas maravilhas foram atribuídas pelos mais sábios da sutil razão ao demônio. E como no tempo de sua estada neste mundo, permaneceu incógnito da razão e da inteligência próprias, assim como permaneceu incógnito e mal conhecido da razão exterior.
2. Daí nasceram tantas disputas e combates a respeito de sua pessoa, que a razão exterior sempre pode crer poder sondar aquilo que são Deus e o homem, como deus e o homem podem ser uma única pessoa? Dito combate preencheu o mundo, visto que toda razão própria tem constantemente acreditado ter apreendido a pérola sem refletir que o reino de Deus não é deste mundo, e que a carne e o sangue não podem nem reconhece-lo nem compreende-lo, muito menos ainda sondá-lo.
3. Logo convém que todo homem que deseja falar dos mistérios divinos ou ensiná-los, tenha também o espírito de Deus, que reconheça na luz divina a coisa que quer anunciar como uma verdade, e não a gere de sua própria razão que, sem conhecimento divino, apoie sua opinião sobre a letra morta, e levante a Escritura pelos cabelos, como a razão tem costume de o fazer ; de onde nasceram quantidade de erros, pois se buscou o conhecimento divino na inteligência e perspicácia próprias, o que nos conduziu da verdade divina para a razão própria; tomou-se a encarnação de Cristo por uma coisa estranha e distante, enquanto que, no entanto, devemos todos nascer de novo em deus, nesta mesma encarnação, se desejamos escapar ao furor da natureza eterna.
4. Assim, logo que é para os filhos de Deus uma obra íntima, inerente, logo eles devem se ocupar diariamente, a toda hora, e entrar sempre na encarnação de Cristo, sair da razão terrestre, e assim nascer, no nascimento e na encarnação de Cristo, durante esta vida de misérias, se eles querem ser filhos de Deus em Cristo, eu me propus escrever para um memorial , este alto mistério, de acordo com meu conhecimento e meus dons, afim que tenha assim um assunto a me deliciar e me restaurar cordialmente com meu Emanuel, pois estou também com outros filhos de Cristo, neste nascimento, e para possuir uma lembrança e um preservativo, caso a carne e o sangue tenebrosos e terrestres queiram me introduzir o veneno do diabo e me obscurecer minha imagem: eu me propus a isto por um exercício de fé, a fim que minha alma possa assim, como um ramo em Jesus Cristo sua árvore, se restaurar de sua seiva e de sua força; e isto, não com altos e preparados discursos da arte ou da razão deste mundo, mas segundo o conhecimento que tenho de Cristo minha árvore, a fim de que meu ramo verdeje e cresça também, ao lado de outros, na árvore e na vida de Deus. E bem que eu funde alta e profundamente, e que isso seja exposto muito claramente aqui adiante, que o leitor saiba no entanto que sem o espírito de Deus, isso lhe permanecerá um mistério inapreensível. Eis porque, que cada se guarde do juízo que terá, com medo que não caia no juízo de Deus e não seja pego por sua própria turba, e que sua própria razão no precipite; digo isto com boa intenção e dou ao leitor para aí refletir.
Saint-Martin
Que la personne de Christ, ainsi que son incarnation, ne peuvent pas être reconnues par la sagacité naturelle ou par la lettre de l’Ecriture-Sainte, sans illumination divine. Item, de l’origine de l’éternel Etre divin.
1. Christ ayant demandé à ses disciples : Que disent les gens que le fils de l’homme est? Ils lui répondirent: les uns disent que tu es Elie, les autres que tu es Jean-Baptiste ou l’un des prophètes. Il leur demanda : et vous, qui dites-vous que je suis? Pierre lui répondit : lu es Christ, le fils du Dieu vivant. Et il lui répondit : En vérité, la chair et le sang ne t’ont point manifesté cela, mais bien mon Père qui est au ciel ; et il leur annonça, là-dessus, ses souffrances, sa mort et sa résurrection (Matth. XVI : 21), pour leur faire voir que la raison propre, dans la sagacité et sagesse mondaines, ne pouvait ni reconnaître ni comprendre la personne qui était Dieu et homme; mais que le plus souvent, il ne serait bien connu que de ceux-là seulement qui s’abandonneraient entièrement à Lui, et qui, pour l’amour de Lui, endureraient la croix, l’affliction et la persécution, et s’attacheraient à Lui avec ardeur. Ce qui aussi est arrivé ; car lorsqu’il était encore visible parmi nous, dans le monde, il fut rarement reconnu de la sagace raison, et quoiqu’il fit des miracles, la raison extérieure fut tellement aveugle et inintelligente, que de si grandes merveilles furent attribuées par les plus sages de la subtile raison au démon. Et comme au temps de son séjour en ce monde, il demeura inconnu de la raison et de l’intelligence propres, de même est-il demeuré inconnu et méconnu de la raison extérieure,
2. De là sont nés tant de disputes et de combats au sujet de sa personne, que la raison extérieure a toujours cru pouvoir sonder ce que sont Dieu et l’homme, comment Dieu et l’homme peuvent être une seule personne? lequel combat a rempli le monde, vu que toute raison propre a constamment cru avoir saisi la perle sans réfléchir que le royaume de Dieu n’est pas de ce monde, et que la chair et le sang ne peuvent ni le reconnaître ni le comprendre, beaucoup moins encore le sonder.
3. Il convient donc que tout homme qui veut parler des mystères divins ou les enseigner, ait aussi l’esprit de Dieu, qu’il reconnaisse dans la lumière divine la chose qu’il veut annoncer comme une vérité, et ne l’enfante point de sa propre raison qui, sans connaissance divine, appuie son opinion sur la lettre morte, et tire l’Ecriture par les cheveux, comme la raison a coutume de le faire ; d’où sont nées quantité d’erreurs, parce qu’on a cherché la connaissance divine dans l’intelligence et la perspicacité propres, ce qui a conduit de la vérité divine dans la raison propre; on a tenu l’incarnation de Christ pour une chose étrangère et éloignée, tandis que, cependant, nous devons tous naître de nouveau de Dieu, dans cette même incarnation, si nous voulons échapper à la fureur de la nature éternelle.
4. Puis donc que c’est pour les enfants de Dieu une œuvre intime, inhérente, donc ils doivent s’occuper journellement, à toute heure, et entrer toujours dans l’incarnation de Christ, sortir de la raison terrestre, et ainsi naître, dans la naissance et l’incarnation de Christ, pendant celte vie de misères, s’ils veulent être enfants de Dieu en Christ, je me suis proposé d’écrire pour un mémorial, ce haut mystère, d’après ma connaissance et mes dons, afin que j’aie ainsi un sujet de me réjouir et de me restaurer cordialement avec mon Immanuel, parce que je suis aussi avec d’autres enfants de Christ, dans cette naissance, et pour posséder un souvenir et un préservatif, dans le cas où la chair et le sang ténébreux et terrestres voudraient m’introduire le poison du diable et m’obscurcir mon image : je me le suis proposé pour un exercice de foi, afin que mon âme puisse ainsi, comme un rameau en Jésus-Christ son arbre, se restaurer de sa sève et de sa force; et cela, non avec de hauts et apprêtés discours de l’art ou de la raison de ce monde, mais d’après la connaissance que j’ai de Christ mon arbre, afin que mon rameau verdisse et croisse aussi, à côté d’autres, dans l’arbre et la vie de Dieu. Et bien que je fonde hautement et profondément, et que cela soit exposé très clairement ci-après, que le lecteur sache néanmoins que sans l’esprit de Dieu, cela lui demeurera un mystère insaisissable. C’est pourquoi, que chacun prenne garde au jugement qu’il portera, de peur qu’il ne tombe dans le jugement de Dieu et ne soit saisi par sa propre turba, et que sa propre raison ne le précipite ; je dis cela à bonne intention et donne au lecteur à y réfléchir.
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