Página inicial > Modernidade > Arthur Schopenhauer > Schopenhauer (MVR1:200-201) – causa e motivo

Schopenhauer (MVR1:200-201) – causa e motivo

terça-feira 14 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro

  

De fato, Malebranche tem razão. Toda causa na natureza é causa ocasional, apenas dá a oportunidade, a ocasião, para o fenômeno da Vontade una, indivisa, em-si de todas as coisas, e cuja objetivação grau por grau é todo este mundo visível. Apenas a entrada em cena, o tornar-se-visível neste lugar, neste tempo, é produzido pela causa, e nesse sentido depende desta, mas não o todo do fenômeno, não a sua essência íntima: esta é a Vontade, à qual não se aplica o princípio de razão, e, portanto, é sem-fundamento. Coisa alguma no mundo possui uma causa absoluta e geral de sua existência, mas apenas uma causa a partir da qual existe exatamente aqui, exatamente agora. Por que uma pedra mostra agora gravidade, outra vez rigidez, agora eletricidade, outra vez propriedades químicas, tudo isso depende de causas e ações externas, e são explicáveis a partir destas. Entretanto, as propriedades mesmas, portanto toda a essência em que consistem, e que se exterioriza de todos aqueles modos, logo, o fato de ser em geral assim como é, o fato de existir em geral — isso não possui fundamento algum, mas é o tornar-se-visível da Vontade sem-fundamento. Portanto, toda causa é causa ocasional. E assim a encontramos na natureza destituída de conhecimento. Precisamente assim é também ali onde não se trata mais de causas e excitação, mas de motivos que determinam o ponto de entrada dos fenômenos, por consequência, ali onde se trata do agir de animais e homens. Pois aqui, como lá, trata-se de uma única e mesma Vontade que aparece, diversa nos graus de sua manifestação, múltipla nos fenômenos e, nesse aspecto, submetida ao princípio de razão, porém em si mesma livre de todas essas determinações.


Ver online : O Mundo como Vontade e como Representação Tomo I