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Lavelle (Acte) – A metafísica busca redescobrir o ato primitivo do qual dependem meu próprio ser e o ser do mundo.

terça-feira 17 de novembro de 2020, por Cardoso de Castro

  

nossa tradução

O caminho que leva à metafísica é particularmente difícil. E poucos homens concordam em escalá-lo. Pois se trata de abolir tudo o que parece sustentar nossa existência, coisas visíveis, as imagens e todos os objetos usuais do interesse ou do desejo. O que procuramos alcançar é um princípio interior a que sempre demos o nome de ato, que gera tudo o que podemos ver, tocar ou sentir, que não se trata de conceber, mas de pôr em operação, e que, pelo sucesso ou fracasso de nossa operação, explica tanto a experiência que temos pela frente quanto o destino que podemos dar a nós mesmos.

Sempre há um pudor secreto no filósofo. Pois ele volta às próprias fontes de tudo o que existe. No entanto, todas as fontes têm um caráter misterioso e sagrado, e o mais leve olhar é suficiente para perturbá-las. É que há nessas fontes tanto a intimidade da vontade divina, que tremo ao questionar, quanto a intimidade da minha própria vontade, que tremo por ter. A obscuridade, misticismo, muitas vezes são marcas dessa modéstia. O que posso compreender, o que posso expressar, senão as manifestações desta vontade pura que a determina, individualiza, limita e já a corrompe?

Os filósofos sempre buscaram qual é o fato primitivo do qual todos os outros dependem. Mas o fato primitivo é que não posso nem postular o ser independentemente do eu que o apreende, nem posar o eu independentemente do ser no qual está inscrito. O único termo em presença do qual sempre me encontro, o único fato que é para mim primário e inconfundível, é minha própria inserção no mundo.

Mas onde está o verdadeiro ponto de inserção? Não está no meu pensamento solitário, nem no obstáculo que me detém e me revela o que não sou, ainda amis isto que sou, nem na angústia que, quando estou pronto para dar-me o ser, faz-me sentir a minha oscilação entre o ser e o nada, embora pensamento, obstáculo e angústia sejam inseparáveis do nascimento da consciência, e mesmo sempre a obrigam a renascer sem cessar, uma vez que se destinam a impedir o hábito a se formar, ou a me subtrair daí, se aí ela já é. O fato original reside em uma experiência infinitamente mais positiva, que é a de minha presença ativa em mim mesmo; é o sentimento de minha responsabilidade comigo mesmo e com o mundo.

A experiência com a qual se inicia tanto a emoção que a vida nos dá como a revelação do nosso próprio ser, não consiste portanto no espetáculo que se desdobra ao nosso olhar e do qual nós próprios fazemos parte, mas sim no pôr em jogo de um movimento que somos capazes de realizar, que depende de nossa única iniciativa, que nos desperta para a consciência de nós mesmos e que, mudando o estado do mundo, nos mostra o próprio império do qual dispomos. Desde que estou atento ao poder que tenho de mexer o dedo mindinho, repetirei esse gesto cem vezes com a mesma admiração. Neste momento somente começo a apreender o real desde de dentro, quer dizer, na própria atividade de que deriva, que forma meu próprio ser e que estremeço ou que retenho por uma simples decisão que depende apenas de mim.

No entanto, o movimento aqui é apenas o sinal e o testemunho de uma atividade mais secreta. Mas basta mostrar que em vez de me encontrar preso a um devir sem fim onde nunca paro de fugir de mim mesmo, não apreendo senão isto que sou neste ato pelo qual eu me arranco a mim mesmo do devir para recomeçar sem cessar a ser, e sem o qual não perceberia o devir ele mesmo. Eis aí um ato de criação que é sempre um consentimento a isto que quero pensar, produzir ou ser.

Original

Le chemin qui conduit vers la métaphysique est particulièrement difficile. Et il y a peu d’hommes qui acceptent de le gravir. Car il s’agit d’abolir tout ce qui paraît soutenir notre existence, les choses visibles, les images et tous les objets habituels de l’intérêt ou du désir. Ce que nous cherchons à atteindre, c’est un principe intérieur auquel on a toujours donné le nom d’acte, qui engendre tout ce que nous pouvons voir, toucher ou sentir, qu’il ne s’agit point de concevoir, mais de mettre en œuvre, et qui, par le succès ou par l’échec de notre opération, explique à la fois l’expérience que nous avons sous les yeux et la destinée que nous pouvons nous donner à nous-même.

Il y a toujours chez le philosophe une pudeur secrète. Car il remonte jusqu’aux sources mêmes de tout ce qui est. Or toutes les sources ont un caractère mystérieux et sacré, et le moindre regard suffit à les troubler. C’est qu’il y a dans ces sources à la fois l’intimité de la volonté divine, que je tremble d’interroger, et l’intimité de ma volonté propre, que je tremble d’engager. L’obscurité, le mysticisme, sont souvent des marques de cette pudeur. Que puis-je saisir, que puis-je exprimer, sinon des manifestations de cette volonté pure qui la déterminent, l’individualisent, la limitent et déjà la corrompent ?

Les philosophes ont toujours cherché quel est le fait primitif dont tous les autres dépendent. Mais le fait primitif, c’est que je ne peux ni poser l’être indépendamment du moi qui le saisit, ni poser le moi indépendamment de l’être dans lequel il s’inscrit. Le seul terme en présence duquel je me retrouve toujours, le seul fait qui est pour moi premier et indubitable, c’est ma propre insertion dans le monde.

Mais où est le véritable point d’insertion ? Ce n’est ni dans ma pensée solitaire, ni dans l’obstacle qui m’arrête et me découvre ce que je ne suis pas plus encore que ce que je suis, ni dans l’angoisse qui, au moment où je suis prêt à me donner l’être, me fait sentir mon oscillation entre l’être et le néant, bien que la pensée, l’obstacle et l’angoisse soient inséparables de la naissance de la conscience, et même qu’elles l’obligent sans cesse à renaître, puisqu’elles sont destinées à empêcher l’habitude de se former, ou à m’y soustraire, si déjà elle est là. Le fait primitif réside dans une expérience infiniment plus positive, qui est celle de ma présence active à moi-même ; c’est le sentiment de ma responsabilité à l’égard de moi-même et du monde.

L’expérience avec laquelle commence tout à la fois l’émotion que la vie nous donne et la révélation de notre être propre, ne consiste donc pas dans le spectacle déployé devant notre regard et dont nous faisons nous-même partie, mais dans la mise en jeu d’un mouvement que nous sommes capable d’accomplir, qui dépend de notre seule initiative, qui nous éveille à la conscience de nous-même et qui, en changeant l’état du monde, nous montre l’empire même dont nous disposons. Dès que je suis attentif au pouvoir que j’ai de remuer le petit doigt, je répèterai cent fois ce geste avec le même émerveillement. A ce moment-là seulement je commence à saisir le réel par le dedans, c’est-à-dire dans l’activité même dont il dérive, qui forme mon être même et que j’ébranle ou que je retiens par une simple décision qui dépend de moi seul.

Cependant le mouvement n’est ici que le signe et le témoin d’une activité plus secrète. Mais il suffit à montrer qu’au lieu de me trouver pris dans un devenir sans fin où je ne cesse de m’échapper à moi-même, je ne saisis au contraire ce que je suis que dans cet acte par lequel je m’arrache moi-même au devenir pour recommencer sans cesse à être, et sans lequel je ne percevrais pas le devenir lui-même. C’est là un acte de création qui est toujours un consentement à ce que je veux penser, produire ou être.


Ver online : La dialectique de l’éternel présent, tome II. DE L’ACTE.