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Steps to an ecology of mind
Bateson (SEM:C1.4) – indução científica
Capítulo 1.4 - Introdução
sexta-feira 18 de março de 2022, por
tradução
Molière, há muito tempo, retratou um exame de doutorado oral em que os doutos doutores pedem ao candidato que diga a “causa e razão” por que o ópio faz as pessoas dormirem. O candidato responde triunfantemente em latim macarrônico: “Porque há nele um princípio dormitivo (virtus dormitiva)”.
Caracteristicamente, o cientista confronta um sistema interativo complexo – neste caso, uma interação entre o homem e o ópio. Ele observa uma mudança no sistema – o homem adormece. O cientista então explica a mudança dando um nome a uma “causa” fictícia, localizada em um ou outro componente do sistema em interação. Ou o ópio contém um princípio dormitivo reificado, ou o homem contém uma necessidade reificada de sono, uma adormitose, que é “expressa” em sua resposta ao ópio.
E, caracteristicamente, todas essas hipóteses são “dormitivas” no sentido de que adormecem a “faculdade crítica” (outra causa fictícia reificada) dentro do próprio cientista.
O estado de espírito ou hábito de pensamento que vai dos dados à hipótese dormitiva e de volta aos dados é auto-reforçador. Há, entre todos os cientistas, um alto valor dado à previsão e, de fato, ser capaz de prever fenômenos é uma coisa boa. Mas a previsão é um teste bastante pobre de uma hipótese, e isso é especialmente verdadeiro para “hipóteses dormitivas”. Se afirmarmos que o ópio contém um princípio dormitivo, podemos dedicar uma vida inteira de pesquisa ao estudo das características desse princípio. É estável ao calor? Em qual fração de um destilado ele está localizado? Qual é a sua fórmula molecular? E assim por diante. Muitas dessas perguntas serão respondidas em laboratório e conduzirão a hipóteses derivadas não menos “dormitivas” do que aquela de onde partimos.
De fato, a multiplicação de hipóteses dormitivas é um sintoma de preferência excessiva pela indução, e essa preferência deve sempre levar a algo como o estado atual das ciências do comportamento – uma massa de especulações quase teóricas desconectadas de qualquer núcleo de conhecimento fundamental.
Original
Molière, long ago, depicted an oral doctoral examination in which the learned doctors ask the candidate to state the “cause and reason” why opium puts people to sleep. The candidate triumphantly answers in dog Latin, “Because there is in it a dormitive principle (virtus dormitiva).”
Characteristically, the scientist confronts a complex interactive system—in this case, an interaction between man and opium. He observes a change in the system — the man falls asleep. The scientist then explains the change by giving a name to a fictitious “cause,” located in one or other component of the interacting system. Either the opium contains a reified dormitive principle, or the man contains a reified need for sleep, an adormitosis, which is “expressed” in his response to opium.
And, characteristically, all such hypotheses are “dormitive” in the sense that they put to sleep the “critical faculty” (another reified fictitious cause) within the scientist himself.
The state of mind or habit of thought which goes from data to dormitive hypothesis and back to data is self-reinforcing. There is, among all scientists, a high value set upon prediction, and, indeed, to be able to predict phenomena is a fine thing. But prediction is a rather poor test of an hypothesis, and this is especially true of “dormitive hypotheses.” If we assert that opium contains a dormitive principle, we can then devote a lifetime of research to studying the characteristics of this principle. Is it heat-stable? In which fraction of a distillate is it located? What is its molecular formula? And so on. Many of these questions will be answerable in the laboratory and will lead on to derivative hypotheses no less “dormitive” than that from which we started.
In fact, the multiplication of dormitive hypotheses is a symptom of excessive preference for induction, and this preference must al-ways lead to something like the present state of the behavioral sciences— a mass of quasi-theoretical speculation unconnected with any core of fundamental knowledge.
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