Aristóteles [Et. Nic., I. 8] divide as bênçãos da vida em três classes: as que nos vêm de fora, as da alma e as do corpo. Não mantendo nada dessa divisão além do número, observo que as diferenças fundamentais na sorte humana podem ser reduzidas a três classes distintas:
(1) O que um homem é: isto é, a personalidade, no sentido mais amplo da palavra; sob a qual estão incluídos saúde, força, beleza, temperamento, caráter moral, inteligência e educação.
(2) O que um homem tem: isto é, (…)
Apontamentos de pensadores do Ocidente e do Oriente, desde um apreço (philo) à compreensão (sophia) do "ser" humano.
[Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro]
Matérias mais recentes
-
Schopenhauer (1942) – conjunturas do destino humano
4 de agosto, por Cardoso de Castro -
Fernandes (FC:192-195) – Consciência como o Ser do Ser
31 de julho, por Cardoso de CastroEssa doutrina que lhe proponho, caro amigo, da Consciência como o Ser do Ser, da Existência como o que está fora do Ser, resultado da Identificação ou Inconsciência, da Intemporalidade (Instantaneidade) da Aparência, da Temporalidade e Virtualidade de toda realidade, é apenas pensamento, ou seja, uma tosca articulação metafísica de uma visão de mundo. Parafraseando o poeta, já haveria metafísica bastante em não pensar em nada. Não há um Ser que muda, pois a Consciência é imutável: o que muda (…)
-
Fernandes (FC:177-179) – inconsciência
31 de julho, por Cardoso de CastroO que acabamos de ver é, então, que há pelo menos dois sentidos fundamentais de “desatenção”, ou de “inconsciência”. No primeiro sentido de “inconsciência”, aquilo de que somos inconscientes num determinado momento poderá tornar-se consciente no momento seguinte. O olho que vê tem uma determinada estrutura. Não podemos ver essa estrutura, no momento em que a estamos usando para ver alguma coisa. Mas podemos vê-la objetivada no momento seguinte, estudando, digamos, em Anatomia, a estrutura do (…)
-
Fernandes (FC:176-177) – pensar
31 de julho, por Cardoso de CastroO que se opõe ao meu “pensar em x” é a impossibilidade de pensar este Pensador de x, no momento mesmo em que ele pensa em x. Este é o ponto de articulação entre consciência e inconsciência. Mas este pensamento, impossível neste momento, torna-se possível no momento seguinte. Pois suponhamos que agora penso em y, ou seja, penso no pensador de x. Recuou o sujeito e recuou, com ele, sua identificação. No pensamento, portanto, a inconsciência permanece inconsciência, independentemente dos (…)
-
Fernandes (FC:174-175) – o que sou?
31 de julho, por Cardoso de CastroO sujeito que recua para fazer aparecer o mundo, inclui no mundo o que ele chama de “os outros”, e seus respectivos pontos de vista. O sujeito que recua para conhecer pode sempre conhecer mais e mais seu próprio ponto de vista, ou as estruturas que o determinam, assim como o ponto de vista dos outros. Posso aprender como é “ser você”. Você pode aprender como é “ser Sérgio Fernandes”. Os obstáculos, aqui, são práticos, não teóricos. E se prosseguirmos nesse exercício indefinidamente, você e (…)
-
Fernandes (FC:174) – Não somos jamais aquilo de que temos consciência
31 de julho, por Cardoso de CastroVejamos como, per absurdum, vem-se a imaginar uma Consciência como alienação de si mesma. Vamos usar nossas fórmulas "Não podemos ’perder’ a consciência" e "Conheço x => Não sou x" para tentar compreender como emerge o erro, ou a Ilusão “irresistível” do Ego Transcendental. Não somos jamais aquilo que pensamos. Não somos jamais aquilo de que temos consciência. O pensamento, como o desejo, foi feito para errar, de objeto em objeto, para sempre incapaz de apreender a realidade última do que (…)
-
Fernandes (FC:171-173) – o erro do "homem comum"
31 de julho, por Cardoso de CastroO erro do “homem comum” — e o leitor deve entender que o que escrevo não nos critica, ao contrário, presta-nos a homenagem de uma verdadeira fanfarra [V. 3.5 adiante.]—, o erro do “homem comum” é o Erro de Descartes. Se compreendemos a estrutura da Identificação Secundária, não podemos deixar de reconhecer a verdade da seguinte fórmula:
( 5 ) Conheço x => Não sou x
Em que a constante “Conheço” pode, por sua vez, funcionar como variável, cujo domínio são todas as “atitudes (…) -
Nietzsche (HDM) – a linguagem
22 de julho, por Cardoso de Castro11. A linguagem como suposta ciência. — A importância da linguagem para o desenvolvimento da cultura está em que nela o homem estabeleceu um mundo próprio ao lado do outro, um lugar que ele considerou firme o bastante para, a partir dele, tirar dos eixos o mundo restante e se tornar seu senhor. Na medida em que por muito tempo acreditou nos conceitos e nomes de coisas como em aeternae veritates [verdades eternas], o homem adquiriu esse orgulho com que se ergueu acima do animal: pensou ter (…)
-
Rosset (2013) – uso do tempo
22 de maio, por Cardoso de CastroO que chamamos de "uso do tempo" é muitas vezes, se não sempre, uma maneira de não usar o tempo, de colocá-lo em espera e em segundo plano. Mais precisamente, é uma maneira de não vivenciar o tempo como tal. O que ocupa o tempo, o uso do tempo, é também o que torna o tempo imperceptível, insensível, fora da consciência e fora da vista. É quando não há nada para fazer que o tempo se torna perceptível - não o tempo no sentido da estrutura transcendental de toda percepção possível, como ensina (…)
-
Rosset (2018) – alegria de viver
21 de maio, por Cardoso de CastroDiria de bom grado, parodiando Aristóteles, que a alegria de viver constitui uma substância totalmente independente de seus "acidentes". Sem dúvida, essa alegria está constantemente exposta a interrupções: pela tortura, física ou moral, pela morte. Mas essas são interrupções, não acidentes da alegria. Uma vez que a alegria da vida reina, não há nenhum fato ou circunstância que possa perturbá-la ou frustrá-la. Em uma palavra, ela é alheia aos acontecimentos, ao reino do eventual. As melhores (…)