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Schopenhauer [FM:4] – ética de Kant como petição de princípio

terça-feira 14 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro

  

tradução

O πρῶτον ψεῦδο [o erro primeiro] de Kant   reside na ideia que ele se faz de ética, da qual aqui está a expressão mais clara (p. 62; R. 54): “Em uma filosofia na prática, não se trata de dar as razões disto que acontece, mas as leis disto que deveria acontecer, isso jamais aconteceu". – Eis aí uma petição de princípio bem caracterizada. Quem te diz que existem leis às quais devemos submeter nossa conduta? Quem disse que isso tem que acontecer, que não acontece jamais? - De onde tomas o direito de colocar essa afirmação em primeiro lugar e depois nos impor, com o tom imperativo de um legislador, uma ética, declarando-a a única possível? Quanto a mim, ao contrário de Kant, digo que o moralista é como o filósofo em geral, que ele deve se contentar em explicar e esclarecer os dados da experiência, em tomar o que existe ou que chega à realidade, para alcançar a torná-lo inteligível; e que, por esse motivo, tem muito a fazer, consideravelmente mais do que foi feito até agora, após milhares de anos. De acordo com a petição de princípio cometida por Kant, e indicada acima, vemos esse filósofo, em seu Prefácio, que aborda todo o assunto, admitir diante de qualquer pesquisa que existam leis morais puras, e essa proposição subsiste no restante do livro e serve como base final para todo o sistema.

Burdeau

Le πρῶτον ψεῦδος [l’erreur première] de Kant réside dans l’idée qu’il se fait de l’éthique même, et dont voici l’expression la plus claire (p. 62 ; R. 54) : « Dans une philosophie pratique, il ne s’agit pas de donner les raisons de ce qui arrive, mais les lois de ce qui devrait arriver, cela n’arrivât-il jamais. » — Voilà une pétition de principe bien caractérisée. Qui vous dit qu’il y ait des lois auxquelles nous devions soumettre notre conduite ? Qui vous dit que cela doit arriver, qui n’arrive jamais ? — Où prenez-vous le droit de poser dès l’abord cette affirmation, puis là-dessus, de nous imposer, avec le ton impératif d’un législateur, une éthique, en la déclarant la seule possible ? Quant à moi, tout au rebours de Kant, je dis que le moraliste est comme le philosophe en général, qu’il doit se contenter d’expliquer et d’éclaircir les données de l’expérience, de prendre ce qui existe ou qui arrive dans la réalité, pour parvenir à le rendre intelligible ; et qu’à ce compte, il a beaucoup à faire, considérablement plus qu’on n’a encore fait jusqu’ici, après des milliers d’années écoulées. Conformément à la pétition de principe commise par Kant, et ci-dessus indiquée, on voit ce philosophe, dans sa Préface, qui roule toute sur ce sujet, admettre avant toute recherche qu’il y a des lois morales pures, et cette proposition subsiste dans la suite du livre, et sert de base dernière à tout le système.


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