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Schopenhauer (MVR2:170-171) – vontade

terça-feira 14 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro

  

A proposição de Kant  : “o EU PENSO tem de acompanhar todas as nossas representações” é insuficiente: pois o eu é uma grandeza desconhecida, vale dizer, é para si mesmo um mistério. Aquilo que confere unidade e coesão à consciência, na medida em que, perpassando todas as suas representações, é seu substrato, seu sustentáculo permanente, não pode ser condicionado pela consciência, logo, não pode ser representação alguma: antes tem de ser o prius da consciência, a raiz da árvore da qual aquela é o fruto. Isso, eu digo, é a VONTADE: apenas ela é imutável e absolutamente idêntica, e, para seus fins, produziu a consciência. Por isso é ela também que dá unidade à consciência e mantém coesas todas as suas representações e pensamentos, semelhante a um baixo fundamental contínuo que a acompanha. Sem ela o intelecto não teria mais unidade de consciência do que a tem um espelho, no qual expõe-se em sucessão ora isto ora aquilo, ou, no máximo, tanto quanto a tem um espelho convexo, cujos raios convergem num ponto imaginário por trás da superfície. Mas unicamente a VONTADE é o permanente e imutável na consciência. É ela que atribui coesão a todos os pensamentos e representações, como meios em vista de seus fins, tingindo-os com a cor do seu caráter, da sua disposição e do seu interesse, domina a atenção e manipula o fio dos motivos, cujo influxo em última instância põe em atividade também a memória e a associação de ideias: no fundo, trata-se dela quando num juízo se diz “eu”. Ela, portanto, é o último e verdadeiro ponto de unidade da consciência e o ligamento de todas as suas funções e atos: não pertence, todavia, ela mesma ao intelecto, mas é simplesmente a sua raiz, origem e dominadora.


Ver online : O Mundo como Vontade e como Representação Tomo I