Nomes escriturários e patrísticos
Pluralidade de Nomes
"Um nome é um termo que sumariza e exprime uma qualidade específica do nomeado." Orígenes Origenes Peri Euches - TRATADO DA ORAÇÃO
2 O nome é uma expressão em que se condensa e descreve a qualidade específica da coisa nomeada.
Por exemplo, o Apóstolo Paulo tem características especiais: da alma , pela qual é o que é; da mente , pela qual pode contemplar certas realidades; do corpo, pelo qual é indivíduo único.
O caráter particular destas propriedades é pessoal e não pode convir a outros (entre os seres não há nenhum que não difira de Paulo em algum aspecto). Isso é indicado pelo nome de Paulo.
Quando os homens mudam de algum modo as qualidades próprias, mudam também de nome, segundo as Escrituras . Assim, quando mudou a qualidade de "Abrão", o mesmo se chamou "Abraão" (cf. Gn 17,5). Quando mudou "Simão", foi chamado de "Pedro " (cf. Mc 3,16). Quando "Saulo" deixou de perseguir a Cristo , foi chamado "Paulo" (cf. At 13,9). Quanto a Deus , que é sempre invariável e imutável , não há senão um nome, dado no livro do Êxodo (3,14) : "Aquele-que-é", e algum outro semelhante.
Todos nós imaginamos algo sobre Deus e formamos ideias sobre ele, mas não podemos entender o que ele é em si mesmo . Na realidade, são poucos e, se me é permitido dizer, são pouquíssimos entre os poucos, os que entendem as suas propriedades.
A justo título, aprendemos que existe em nós uma noção correta de Deus, se podemos perceber que ele é criador, providência, juiz, aquele que escolhe e que abandona, julga alguém digno de prêmio ou de castigo , segundo cada qual o mereça. Por estas e semelhantes atuações de Deus, caracteriza-se, por assim dizer, a qualidade própria de Deus que, a meu ver, se exprime na Sagrada Escritura com o nome de Deus.
O melhor comentário dessa longa dissertação de Origenes é D. Mollat em um comentário de João (III, 18): Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. (Jo 3:18). Mollat nota que o "nome" é “um semitismo para pessoa”.
O Senhor Jesus, filhod e Maria, tem muitos nomes. Um autor anônimo do século VII nos legou uma lista de nomes escriturários do Salvador (187 nomes), e afirma: alguns dizem que o nome próprio do Salvador é Sabedoria , outros que Verbo; e que os demais nomes não são nomes próprios mas metafóricos (tropikos). Aqui estão os primeiros nomes: Sabedoria, Verbo, Filho de Deus , Palavra de Deus, Luz do Mundo, Verdadeira Luz, Ressurreição, Caminho, Verdade, Vida, Portão, Pastor , Messias, Cristo, Jesus, Mestre (didaskalos).
Nesta lista o nome "Jesus" aparece em décimo-quinto lugar. Em uma lista seguinte dos nomes da Theotokos ele começa com Maria e conclui com o número 54: "Theotokos própria e verdadeiramente".
O compilador desse florilegium dogmático, que Diekamp chama de “a mais extensiva e valiosa de todas que possuímos”, não fornece nenhuma argumento para autores modernos que clamam que a Oração de Jesus pode consistir somente da palavra “Jesus” posto que este é o coração e a essência da oração assim como o núcleo da Cristandade Ortodoxa e sua vida espiritual. Estava o compilador anônimo não familiar com a “filosofia do nome”? Se sim, A hipótes de Diekamp sobre o autor cai por terra . Ele atribui este florilegium a Anastasius o Sinaíta, mas os sinaítas preservariam a filosofia do nome mais que qualquer um, posto que o Sinai é uma área semita e a Oração de Jesus tem grande importância para espiritualidade sinaíta.
De qualquer modo o problema é: se há uma filosofia do nome qual seria o nome seria adotado entre tantos nomes do Salvador? A resposta é importante não somente para história ou pré-história da Oração de Jesus, mas em geral para a história da devoção ao nome de Jesus.
Nomes de Jesus nos Evangelhos
Para distinguir Jesus de outros com mesmo nome, seus contemporâneos, se designava a cidade donde veio, sua origem, assim "Jesus de Nazaré". Assim Pilatos colocou sobre a cruz este nome. Não há referência a Jesus por este simples nome ou por Senhor Jesus nos Evangelhos. O vocativo, no entanto, ocorre em Marcos e Lucas apenas pelos demônios falando através dos lábios de alguém possuído , o chama Jesus de Nazaré, em Mc 1,24 e Lc 4,34. O demoníaco gadareno em Mc 5 usa o título “Jesus, filho de Deus Altíssimo” (Mc 5,7 e Lc 8,28). A parte os possuídos somente os cegos, Bartimaeus, chamam Jesus por seu nome próprio, adicionando “Filho de Davi” (Mc 10,47; Lc 18,38). Este é o texto defendido pelos proponentes da Oração de Jesus. Em outro incidente em Lucas, os dez leprosos chamam à distância, “Jesus, Mestre, tende piedade de nós” (Lc 17,13). De acordo com algumas versões o bom chefe diz, “Jesus, lembre de mim” (Lc 23,52), mas uma variante significativa usa “lembra de mim” sem o nome de Jesus, enquanto outra pões “Jesus” no dativo, “Ele disse para Jesus”. A mulher canaanita chama, “Tem piedade de mim, Senhor, filho de Davi” (Mt 15,22).
Deste breve levantamento parece que apenas os demônios e pessoas fora da círculo dos discípulos chamavam Jesus por seu nome, e geralmente acompanhado de um título especial. Assim um dia Jesus teria dito a seus discípulos próximos: “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” (Jo 15:15). No entanto, os discípulos mesmos não ousavam chamá-lo pelo primeiro nome; talvez a ideia nunca lhes ocorreu. E o Senhor parece aprovar, pois diz: “Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou .” (Jo 13:13) Mestre e Senhor não são sinônimos, e podem ser entendidos seja o sentido nominativo como nomes que os discípulos usavam quando falando sobre Jesus e no sentido vocativo como nomes que usavam falando a Jesus. O evangelista provavelmente tinha os dois sentidos em mente , e isto corresponde ao uso geral que encontramos nos evangelhos. Por duas vezes os evangelhos registram uma frase falada por Maria a seu filho, mas ela não chama “Jesus”. Quando garoto é encontrado no tempolo entre os doutores, ela diz, “Meu filho” (teknon, Lc 2,48). No Bodas de Cana ela simplesmente diz, “Eles não têm mais vinho ” (Jo 2,3), sem qualquer nome.
Como referência na narrativa dos apóstolos ou primeiros discípulos, depois da ascensão, é feito uso de seu nome histórico e terreno, "Jesus".
De todos os nomes usados para designar o Salvador, o nome "Jesus" é o mais simples, o mais curto e o mais distante de conotações de grandeza e honra ; quando há necessidade destas conotações se adiciona "Kyrios " ou "Didaskalos".
No restante do Novo Testamento
1 Os judeus que opunham a “heresia ” cristã e os pagãos que não sabiam muito a seu respeito, falam com ou sem afetações, de “Jesus”, “Jesus de Nazaré” ou “um certo Jesus”.
2 Quando os apóstolos fala a adversários ou estranhos adotam seu próprio vocabulário, ou seja, dizem “Jesus”.
3 Crentes não usam simplesmente “Jesus”. Lucas somente quando fala como historiador e nas primeiras páginas dos Atos dos Apóstolos. Quando se dirigindo a outros demonstram sua convicção complementando o nome de Jesus com um título de fé e de respeito. O mais comum é “Cristo”. Este é um ato de fé na ressurreição.
Quanto ao título Kyrios (Senhor), esta é uma forma comum de endereçamento polido e respeitoso. Quando depois da ascensão, o título Kyrios ocorre nas palavras e escritos dos apóstolos e primeiros cristãos, ele tem o sentido incisivo, quase surpreendente, dado por Pedro em seu discurso ao judeus de todas as nações que estavam reunidos em Jerusalém: “Saiba, pois com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.” (Acts 2:36)
O hino incomparável registrado na Epístola aos Filipenses expressa sentimentos perfeitamente familiar aos fieis do tempo. Paulo usava-a para recomendar paz , humildade e caridade na comunidade cristã, depois do exemplo de Cristo:
Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai. (Fil 2:6-11)
Os primeiros cristãos sabiam o que diziam quando atribuíam o nome Kyrios a Jesus seu mestre. A versão grega das Escrituras que lhes era familiar usava este termo na tradução do hebraico Adonai e YHWH . O que é dito do Kyrios YHWH no Antigo Testamento é dito do Kyrios Iesous Christos no Novo Testamento. Bousset aponta que chamar o nome do Senhor é uma característica distintiva dos cristãos. É equivalente ao nome próprio num tempo onde a palavra christianos era ainda raro. Chamar o nome do Senhor compreendido como Jesus Cristo é um sinal de fé indiscutível nele como Messias e Filho de Deus. O fato é que até o começo do século II o nome Ieschoua ou Iesous era muito comum entre os judeus. A simples expressão Jesus Cristo é também um ato de fé; especificamente fé que Jesus de Nazaré é o Messias.
Por todas as razões indicadas — o fato de Kyrios ser o nome divino, Christos o nome messiânico e Jesus um nome ordinário comum no meio judeu-cristão — pode ser dito que os primeiros cristãos usavam o nome Cristo mais frequentemente que o nome Jesus. Eles sabiam pelo próprio Mestre que não era suficiente dizer “Senhor, Senhor”, a fim de ser um verdadeiro discípulo, e sabiam por instinto e experiência que dizer simplesmente “Jesus” não era suficiente para constituir um ato de fé.
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Nomes de Jesus usados pelos primeiros cristãos