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luz etc

  

phos / φως / φῶς / φώς / φάος / φωτός / photos / φανός / phanos / φανή / phane / φανόν / phanon / φωσφόρος / phosphoros / tocha / portador de luz / φωσφόρα / phosphora / a luz / la lumière / the light / photeinos anthropos / φωτισμός / photismos / iluminação

gr. φως, φῶς, φώς, phos = luz. O uso da metáfora da luz aparece na tradição filosófica dos pré-socráticos onde figura a inteligibilidade do ser. Mas é sobretudo Platão que a explicita em assimilando a Ideia do Bem ao sol.


Henry Corbin

Phos preexistía, inocente y apacible, en el Paraíso; los arcontes le persuadieron, mediante la astucia, para que se revistiera con el Adán corporal. Ahora bien, este último, explica Zósimo, es aquel al que los helenos llamaban Epimeteo, y a quien Prometeo-Phos, su hermano, aconsejó no aceptar los dones de Zeus, es decir, el lazo que sometió al Destino y a las Potencias de este mundo. Prometeo es el hombre de luz orientado y que orienta hacia la luz, pues sigue a su propio guía de luz. No pueden oírlo quienes sólo tienen un oído corporal, pues éstos están sometidos a la potencia del destino, a las potencias colectivas; sólo oyen su demanda y su consejo quienes tienen un oído espiritual, es decir, sentidos y órganos de luz. Y ya aquí podemos percibir la indicación de una fisiología del hombre y sus órganos sutiles. [CorbinHLSI]

Daisetz Suzuki

Quando Deus fez o homem, colocou-lhe na alma sua obra prima, equilibrada, ativa, sempiterna. Foi uma obra tão grande que não poderia ser senão a alma e a alma não poderia ser senão a obra de Deus. A natureza de Deus, seu ser e a Divindade, todos dependem de sua obra na alma. Abençoado, abençoado seja Deus que faz sua obra na alma e que ama sua obra! Aquela obra é amor e amor é Deus. Deus ama a si mesmo e sua própria natureza, seu ser e a Divindade e, no amor que tem a si mesmo, ama todas as criaturas, não como criaturas, mas como Deus. O amor que Deus tem a si mesmo contém seu amor por todo o mundo.

A afirmação de Eckhart   do amor de Deus por si mesmo, que "contém seu amor por todo o mundo", corresponde, de certo modo, à ideia budista da iluminação universal. Quando Buda alcançou a iluminação, convém lembrar, percebeu que todos os seres, tanto os sensíveis quanto os insensíveis, já se encontravam na própria iluminação.

A ideia da iluminação pode fazer com que, sob certos aspectos, os budistas pareçam mais impessoais e metafísicos que os cristãos. O budismo pode, assim, ser considerado mais científico e racional que o cristianismo, que se encontra pesadamente sobrecarregado de toda a sorte de acessórios mitológicos. Procede-se, pois, agora, entre os cristãos., um movimento visando a despir a religião de seu desnecessário apêndice histórico. Embora seja difícil prever até que ponto tal movimento será bem sucedido, o fato é que existem, em todas as religiões, certos elementos que podem ser chamados de irracionais e que, em geral, se relacionam com a necessidade de amor dos seres humanos. A doutrina budista da iluminação não é, afinal de contas, um frio sistema de metafísica, como parece a alguns. O amor também entra na experiência da iluminação como um de seus componentes, pois, de outro modo, ela não poderia abranger a totalidade da existência. A iluminação não significa fugir do mundo, e sentar-se de pernas cruzadas no alto da montanha, baixando-se os olhos, calmamente, para a massa humana condenada. Tem mais lágrimas do que se imagina. [SuzukiMCB  ]

Christian Jambet

Toda cadeia discursiva de conceitos, toda ordem de razões acaba sempre por se enraizar em um proposição primeira. Esta proposição original não pode ser de mesma natureza que o sistema, pois se assim fosse, toda enunciação remeteria sempre a uma enunciação anterior, e assim ao infinito. Mas se não se remonta alé da evidência última, se a evidência parece se dar por si mesma, não é ela seu fundamento? Como a ausência de fundo conceitual pode se tornar o fundamento ele mesmo? É então que a iluminação toma seu verdadeiro sentido. A iluminação, o clarão de verdade, não é o brilho misterioso de um reino irracional. Ela não vem ao sujeito de um mundo de trás que a natureza ocultaria, como uma decoração oculta os bastidores e o real. Segundo Sohravardi, ela é o ato do Intelecto Agente depositando na alma a assistência que lhe é necessária par alcançar o verdadeiro. [JambetLO]

Ysabel de Andia

A iluminação da alma ou do olhar espiritual pelo Espírito é inseparável da santificação

Ela é análoga ao clareamento do ar e do olho pelo sol:

O Paracleto, “como um sol se amparando de um olho muito puro, te mostrará nele mesmo a Imagem do invisível. E na bem venturosa contemplação da Imagem, verá a indizível beleza do Arquétipo... É ele que brilhando naqueles que se purificaram de toda sujeira, os torna espirituais pela comunhão com ele (pros eauto koinoni). Como os corpos límpidos e transparentes, quando um raio do atingem se tornam, eles também, cintilantes e deles mesmos refletem um outro brilho, também as almas que portam o Espírito, se tornam espirituais também e remetem nas outras graças. (Basílio o Grande, De Spiritu Sancto)

O vocabulário de luz não concerne mais aqui a relação intra-trinitária entre luz verdadeira (phos alethinon) do Verbo e o poder iluminador (dynamis photistike) do Espírito, mas a relação de graça entre o Espírito e as “almas iluminadas pelo Espírito”. O Espírito é análogo a “raio” (aktis) que torna os corpos “límpidos” (lampra) e “transparentes” (diaphane), cintilantes (perilampe) e refletindo uma “outra claridade radiante” (auge), pois esta irradiação não é a sua, mas aquela do “raio solar” através de sua própria limpeza. [Basílio o Grande, De Spiritu Sancto: “a imagem de um raio solar cuja graça, presente nele que dela usufrui como se fosse o único a usufruir, brilha sobre a terra e sobre o mar e se mistura ao ar”.]

Nesta passagem, a iluminação é dita «ellampsis», mas numa passagem paralela, a iluminação do Espírito é dita «photismos». Estes dois termos «ellampsis» e «photismos» têm todos os dois uma significação batismal pois a contemplação ou a adoração do Pai no Filho, ou pelo Filho no Espírito, é o fruto da graça batismal que é dada “ao nome do Pai e do Filho e do Espírito”, segundo Mateus 28,19:

Assim como se vê o Pai “no” Filho, assim se vê o Filho “no” Espírito. Adorar “no” Espírito quereria logo dizer que nossa atividade mental se desenrolaria na luz, como se pode deduzi-lo do que foi dito à Samaritana... Assim com se fala de uma adoração “no” Filho como em uma Imagem de Deus o Pai, assim se fala de uma adoração “no” Espírito, como naquele que mostra nele mesmo a deidade do Senhor. Eis porque, na adoração, o Espírito Santo é inseparável do Pai e do Filho. Fora dele com efeito não se adora de modo algum, mas se neles se está, não se separa de Deus de modo algum: ainda mais, na verdade, que não se separa a luz do que se vê. Deste fato, é impossível ver a Imagem de Deus invisível, senão no clareamento do Espírito. E aquele que fixa os olhos sobre a Imagem é incapaz dela separar a luz pois o que causa a visão é necessariamente visto com o que se vê. Assim, a bem dizer, a conclusão se impõe: pela iluminação do Espírito discerne-se a irradiação (apaugasma) da glória de Deus, pela impressão se é levado para aquele a quem pertence a impressão (karakter) e o selo da mesma forma (isotypos sphragis)[Basílio o Grande, De Spiritu Sancto. «karakter» e «sphragis» são ainda dois termos da teologia batismal como «photismos».]. [Mystiques d’Orient et d’occident]