Logificação da intelecção

Zubiri1982

[…] Estamos habituados a ver os conceitos organizados, como se sua organização já estivesse logicamente prefixada. É, mais uma vez, a logificação da intelecção. Para compreendê-lo, basta considerar, por exemplo, a organização dos conceitos segundo gêneros, diferenças e espécies. Sua expressão é a definição. Dizer que o homem é animal “e” racional não é uma definição. Para que o seja, é preciso que o conceito de “animal” seja o gênero; que a diferença seja “racional” e que a “espécie” seja então o homem. Mas isso é uma livre construção. Para alcançá-lo, um homem que apreendemos em apreensão primordial de realidade nos remeteu a outras coisas igualmente apreendidas em apreensão primordial de realidade, e é desde estas outras coisas que vamos formando o conceito genérico. Pois bem, estas outras coisas são escolhidas livremente. Se escolho o “animal” como coisa para a qual me remete o homem apreendido em apreensão primordial, então evidentemente “animal” pode desempenhar a função de gênero. “Animal” seria um gênero que se diferencia em “irracional” e “racional”. Mas esta escolha do “animal” é perfeitamente livre. Poderia escolher como gênero simplesmente “racional”. Então, “racional” seria o gênero, enquanto “animal” seria simples diferença. O “racional” se dividiría em “animal” e “espiritual”. Foi no fundo a concepção de Orígenes: o homem seria uma alma puramente espiritual que caiu em matéria animal. A conceituação estrita do que é o apreendido em apreensão primordial é, portanto, resultado de um movimento livre e criador.