Este é o título de um famoso livro de Bernard Mandeville (1670-1733), que começa, de fato, com uma fábula. Abelhas, que se assemelham surpreendentemente aos humanos (têm as mesmas paixões e profissões que nós), vivem em uma colmeia tão próspera quanto depravada. Por isso, lamentam-se dos vícios que ali reinam. Júpiter, irritado com suas queixas perpétuas, leva-as a sério: decide torná-las perfeitamente virtuosas. O resultado? “A colmeia definha rapidamente.” Nossas santas abelhas, não mais impelidas pela ganância ou pelo amor-próprio, renunciam imediatamente ao luxo e, por desdém pelo conforto e pela glória, ao comércio, à indústria, às belas-artes e, por fim, à própria colmeia: eis-nos diante de abelhas honestas e pobres, contentando-se com o “oco de uma árvore” para se abrigar… A lição que Mandeville extrai disso? Que os “vícios privados” são “benefícios públicos”: o egoísmo, a inveja e a ganância contribuem mais para a prosperidade de um povo do que a pouca virtude da qual os indivíduos são capazes. A tese, que causou escândalo, é demasiado unilateral para ser totalmente convincente (Hume, que a reivindica, e Adam Smith, que busca se distanciar dela, são muito mais sutis e profundos). No entanto, não posso deixar de pensar que ela é desagradável demais para não conter ao menos uma parcela de verdade. Notemos, aliás, que ela não abole de modo algum a moral: os vícios privados, ainda que economicamente eficazes, continuam moralmente condenáveis, assim como as virtudes, mesmo que economicamente prejudiciais, não deixam de ser moralmente louváveis. Uma lição de lucidez, mais do que de cinismo (ou de cinismo no sentido filosófico, e não trivial). Por que a moral e a economia caminhariam na mesma direção? É o que todos desejariam, e o que Mandeville denuncia como uma ilusão confortável e perniciosa. “É impossível”, escreve ele, “ter todas as delícias mais refinadas da vida que se encontram em uma nação industriosa, rica e poderosa, e ao mesmo tempo conhecer toda a virtude e toda a inocência que se pode desejar em uma era dourada.” Paremos de nos queixar da imoralidade dos tempos. Façamos, antes, o nosso dever e o nosso trabalho.