Esquecimento (Antonio Machado)

Antonio Machado, Machado2002

O meu mestre exaltava o valor poético do esquecimento, de acordo com a sua metafísica. Para a sua metafísica — recorde-se — o esquecimento era um dos “sete reversos, aspectos do nada ou formas do grande Zero”. Em virtude do esquecimento, o poeta pode — pensava o meu mestre — arrancar as raízes do seu espírito, enterradas no solo do anedótico e do trivial, para as ancorar, mais profundamente, no subsolo ou na rocha viva do sentimento, que já não é evocativo, mas — pelo menos na aparência — ilumina novas formas. Porque só a criação apaixonada triunfa sobre o esquecimento.