Imagens não feitas por mãos humanas
Wunenburger2016
Essa hermenêutica estética ainda faz sentido hoje, quando as imagens não são mais feitas por mãos humanas, mas se tornam digitais? A recente entrada das imagens numa nova era tecnológica não transforma não apenas a estética, mas também a metafísica subjacente à imagem? Nesse sentido, a época contemporânea permanece talvez, através de seus questionamentos radicais e sua desconstrução da arte tradicional, o momento mais propício para avaliar as fontes, forças e limites dessa estética da transfiguração das imagens.
As artes visuais, através da mediação de aparelhos e máquinas (câmeras fotográficas e filmadoras) e da digitalização computacional, adquiriram a capacidade de duplicar o real num mundo virtual que frequentemente funciona como simulacro, como ilusão. Como ainda defender uma estética quando as artes parecem confundir imagem com simulação do real? Num certo sentido, as artes digitais radicalizam o paradigma da imitação, pois o real e o virtual se confundem - mas ao mesmo tempo abrem espaço para práticas alternativas saturadas de conceitos e valores niilistas das imagens.
Como, nesse contexto, recuperar um lugar para uma estética da imagem feita por mãos humanas, que possa herdar essa filosofia das imagens que busca atribuir-lhes uma configuração singular entre representação e presença, entre presença e ausência, entre realidade e surrealidade? A crise da arte diante das novas tecnologias, longe de celebrar a arte, revela em muitos aspectos seu desaparecimento; longe de renovar a estética, a abole. Mas não seria este justamente o ponto extremo onde um retorno ao paradigma da Páscoa estética poderia reabrir caminhos para um renascimento da arte?
