Morremos todos os dias (Sêneca)
Sêneca, Cartas 24,19—21:
Lembro-me de que uma vez abordaste o lugar-comum de que não encontramos a morte repentinamente, mas avançamos gradualmente: morremos todos os dias. Todos os dias, uma parte de nossa vida é retirada. Além disso, à medida que crescemos, nossa vida diminui. Perdemos nossa primeira infância, depois nossa infância, depois nossa juventude. Todo o tempo passado até ontem pereceu. O próprio dia que estamos vivendo compartilhamos com a morte. Assim como não é a última pequena gota que esvazia a clepsidra, mas o que já fluiu antes, a última hora na qual deixamos de existir não produz sozinha a morte; sozinha, ela completa a morte. É quando a enfrentamos, mas estamos indo em sua direção há muito tempo. Quando descrevestes isso com sua voz habitual — és sempre poderoso, mas nunca mais incisivo do que quando encaixa palavras à verdade— disseste: “Não é uma única morte que vem; a morte que nos leva é a última”. Eu preferiria que lesses a si mesmo em vez da minha carta. Pois te será evidente que essa morte que tememos é a última, mas não a única.
