Schelling (1946) – afetividade
(Schelling1946)
I. A afetividade é o princípio obscuro do espírito (no sentido geral da palavra), aquele pelo qual, do ponto de vista real, ele se encontra em relação com a natureza e, do ponto de vista ideal, com o mundo superior, mas com este último em uma relação obscura.
O que há de mais obscuro e, consequentemente, de mais profundo na natureza humana é a tristeza, da qual se pode dizer que é como a força da gravidade da afetividade e cuja expressão extrema é representada pela melancolia nostálgica. É principalmente por ela que se expressa a simpatia do homem com a natureza. A melancolia é o sentimento mais profundo que também anima a natureza: ela lamenta, igualmente, um Bem perdido, e uma melancolia invencível está ligada à vida inteira, porque há algo independente abaixo dela (o que está acima eleva, o que está abaixo atrai para baixo).
A segunda potência da afetividade é aquela que, nela, corresponde ao espírito; portanto, de modo geral, ao caráter do espírito. O espírito é o que existe por sua própria natureza, uma chama que queima por si mesma. Mas, como, enquanto Existente, ele se encontra diante do ser, o espírito não é, na verdade, nada mais do que a busca apaixonada pelo ser, assim como a chama que busca a matéria. A natureza mais profunda do espírito é busca, desejo, paixão. Aquele que quer apreender o espírito em sua raiz mais profunda deve começar por se familiarizar com a natureza do desejo. O que se manifesta primeiro no desejo é algo que está completamente fora de si; o desejo é algo inextinguível; cada desejo pode significar a perda da inocência. Ele é a fome do ser, e cada satisfação apenas o fortalece, ou seja, o torna mais faminto. É nisso que se manifesta a natureza inextinguível do espírito, e é fácil perceber o grau que essa fome, esse desejo pelo ser, pode atingir no homem, depois que ele se separou dele mesmo, perdendo toda possibilidade de agir diretamente sobre o ser.
A terceira potência da afetividade é representada pelo sentimento (sensibilidade, precedida na natureza orgânica pela irritabilidade). O sentimento é a expressão mais elevada da afetividade, seu elemento mais belo, aquele que o homem deve valorizar mais.
A afetividade constitui, propriamente falando, o lado real do homem por e no qual ele deve realizar tudo. O espírito mais elevado, privado de sentimento, permanece estéril e não pode produzir ou criar nada. No entanto, aqueles que querem fundar a ciência sozinha a fundam certamente sobre a potência mais elevada, mas em seu grau mais baixo.
