rousseau:antropologia-a-partir-do-eu

Antropologia a partir do "eu"

Jean-Jacques Rousseau, Confessions, ch. 1, Garnier, 1946, T.1, p. 9-10.

Empreendo uma obra que não tem exemplo e cuja execução não terá imitadores. Quero mostrar aos meus semelhantes um homem em toda a verdade da natureza - e esse homem serei eu.

Apenas eu. Conheço meu coração e conheço os homens… Se a natureza acertou ou errou ao quebrar o molde no qual me formou, só se poderá julgar depois de me ler.

Que soe a trombeta do Juízo Final quando quiser: comparecerei com este livro na mão perante o Soberano Juiz. Direi em voz alta:

“Eis o que fiz, o que pensei, o que fui. Narrei o bem e o mal com igual franqueza. Não omiti nada de ruim, nem acrescentei nada de bom. Se porventura usei algum ornamento supérfluo, foi apenas para preencher lacunas de minha memória - podendo supor verdadeiro apenas o que sabia poder sê-lo, jamais o que sabia ser falso. Mostrei-me tal como fui: desprezível e vil quando o fui; bom, generoso, sublime quando o fui. Revelei meu íntimo como Tu mesmo o viste.

Ó Eterno, reúne ao meu redor a multidão incontável de meus semelhantes! Que ouçam minhas confissões, que lamentem minhas indignidades, que se envergonhem de minhas misérias. Que cada um deles revele, por sua vez, seu coração aos pés de teu trono com igual sinceridade - e então que um só ouse dizer-te: 'Fui melhor que esse homem.'”

/home/mccastro/public_html/sofia/data/pages/rousseau/antropologia-a-partir-do-eu.txt · Last modified: by 127.0.0.1