Paixões para os gregos
Michel Meyer, Meyer1991
Para os Gregos, as paixões eram, antes de mais, políticas, no sentido mais lato do termo: moldavam a vida da cidade, ou seja, as relações entre os homens livres. É importante negociar as diferenças e as divergências de opinião para alcançar o bem comum, daí a importância das paixões na Retórica de Aristóteles. Para convencer alguém, é preciso comovê-lo e, por isso, saber quais são as suas paixões, ou seja, as inclinações, os gostos, os desejos, as crenças e as atitudes que o caracterizam. Sede do indivíduo avant la lettre, as paixões são os sinais da diferença e da diversidade humanas, com as quais temos de contar para vivermos juntos. São também os meios pelos quais as oposições se exprimem, se traduzem e se comunicam. A raiva, por exemplo. Em suma, a paixão é aquilo a que, alguns séculos mais tarde, se chamaria (auto) consciência, uma vez que exprime uma reação aos outros, uma imagem de si próprio vista pelos outros, uma reflexividade, um espetáculo, uma consciência observadora. Mas isto continua a ser apenas uma relação sócio-política entre indivíduos. A desregulação das paixões conduz ao desterro, ao passo que, mais tarde, o cristão a veria mais como uma questão de salvação pessoal.
