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outros_pensadores:paixoes-meyer

Paixões (Meyer)

Michel Meyer, Meyer1991

Daí a questão de saber o que é uma paixão. É sempre uma obsessão que nos absorve por inteiro e nos despoja, ou é, na maior parte das vezes, uma simples emoção, um pouco forte, sem dúvida, mas não tão forte que se cristalize numa hidra devoradora? Se lermos Aristóteles, tanto a calma como a vergonha fazem parte das paixões, o que prova que foram concebidas como algo mais do que resultados extremos. Para Descartes, são os movimentos da alma que vêm do corpo e não dela própria, como as ideias inatas; são as percepções involuntárias que nos afetam. É aqui que a consciência perde o controlo reflexivo, como se, ao tornar-se reflexiva em relação àquilo que a envolve e a move, parecesse inconsciente em virtude da sua relação com o objeto que a invade e que, por si só, a detém. Resiste ou reage favoravelmente a ele, e chamaremos a isso prazer ou desprazer. O homem aproxima-se ou afasta-se, quer reproduzir a sensação ou, pelo contrário, reprime-a. Embora não estejamos ainda a falar do inconsciente, a consciência entregue ao pathos é já, para Descartes, um lugar conturbado. A consciência está sujeita às múltiplas variações impostas pelos corpos que, apesar da razão que a habita, não pode neutralizar através da indiferença de um pensamento exclusivamente sujeito à necessidade imutável das verdades matemáticas.

Descartes e Freud, Aristóteles e S. Tomás, Cícero e S. Agostinho: consoante o autor e o ponto de vista, há catorze, onze, quatro ou seis paixões… A filosofia parece aqui reger-se apenas pela arbitrariedade e excluir qualquer lógica das paixões que não seja aquela que justifica uma ou outra redução.

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