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Merleau-Ponty (FP) – atenção

(MPPF)

Mas a noção de atenção, como o mostraremos mais amplamente, não tem a seu favor nenhum testemunho da consciência. Intro I

Esses casos em que o fenômeno não adere ao estímulo devem ser mantidos no quadro da lei de constância e explicados por fatores adicionais — atenção e juízo — ou então é preciso rejeitar a própria lei? Quando o vermelho e o verde, apresentados em conjunto, dão uma resultante cinza, admite-se que a combinação central dos estímulos pode imediatamente dar lugar a uma sensação diferente daquilo que exigiriam os estímulos objetivos. Intro I

A mesma conclusão não se aplicaria aos três primeiros exemplos que citamos? Se a atenção, se uma ordem mais precisa, se o repouso, se o exercício prolongado finalmente restabelecem percepções conformes à lei de constância, isso não prova seu valor geral, pois, nos exemplos citados, a primeira aparência tinha um caráter sensorial do mesmo modo que os resultados obtidos finalmente, e a questão é saber se a percepção atenta, a concentração do sujeito em um ponto do campo visual — por exemplo, a “percepção analítica” das duas linhas principais na ilusão de Müller-Lyer —, em lugar de revelar a “sensação normal”, não substituem o fenômeno original por uma montagem excepcional. Intro I

Poder-se-ia mostrá-lo estudando a história do conceito de atenção. Intro III

É preciso então que elas estejam despercebidas, e chamar-se-á de atenção a função que as revela, assim como um projetor ilumina objetos preexistentes na sombra. Intro III

O ato de atenção então não cria nada, e é um milagre natural, como dizia mais ou menos Malebranche, que faz jorrar justamente as percepções ou as ideias capazes de responder às questões que eu me colocava. Intro III

Já que o “Bemerken” ou o “take notice” não é causa eficiente das ideias que ele faz aparecer, ele é o mesmo em todos os atos de atenção, assim como a luz do projetor é a mesma qualquer que seja a paisagem iluminada. Intro III

A atenção é portanto um poder geral e incondicionado, no sentido de que a cada momento ela pode dirigir-se indiferentemente a todos os conteúdos de consciência. Intro III

Para reatá-la à vida da consciência, seria preciso mostrar como uma percepção desperta a atenção, depois como a atenção a desenvolve e a enriquece. Intro III

O sujeito empirista, a partir do momento em que lhe atribuímos uma iniciativa — e essa é a razão de ser de uma teoria da atenção —, só pode receber uma liberdade absoluta. Intro III

O intelectualismo, ao contrário, parte da fecundidade da atenção: já que tenho consciência de obter por ela a verdade do objeto, ela não faz um quadro suceder fortuitamente a um outro quadro. Intro III

A cera é desde o começo um fragmento de extensão flexível e mutável, simplesmente eu o sei clara ou confusamente “segundo minha atenção se dirija mais ou menos às coisas que estão nela e das quais ela é composta”. Intro III

Já que experimento na atenção um esclarecimento do objeto, é preciso que o objeto percebido já encerre a estrutura inteligível que ela destaca. Intro III

Não precisamos analisar o ato de atenção como passagem da confusão à clareza, porque a confusão não é nada. Intro III

Mas em uma consciência que constitui tudo, ou, antes, que possui eternamente a estrutura inteligível de todos os seus objetos, assim como na consciência empirista que não constitui nada, a atenção permanece um poder abstrato, ineficaz, porque ali ela não tem nada para fazer. Intro III

A consciência não está menos intimamente ligada aos objetos em relação aos quais ela se distrai do que àqueles aos quais ela se volta, e o excedente de clareza do ato de atenção não inaugura nenhuma relação nova. Intro III

Ele volta a ser então uma luz que não se diversifica com os objetos que ilumina, e mais uma vez se substituem “os modos e as direções específicas da intenção” por atos vazios da atenção. Intro III

Enfim, o ato de atenção é incondicionado, porque ele tem todos os objetos indiferentemente à sua disposição, como o era o Bemerken dos empiristas, já que todos os objetos lhe eram transcendentes. Intro III

Como um objeto atual, entre todos, poderia excitar um ato de atenção, já que a consciência os tem a todos? O que faltava ao empirismo era a conexão interna entre o objeto e o ato que ele desencadeia. Intro III

Ambos concordam no fato de que nem um nem outro compreendem a consciência ocupada em apreender, não notam essa ignorância circunscrita, essa intenção ainda “vazia”, mas já determinada, que é a própria atenção. Intro III

Quer a atenção obtenha aquilo que procura por um milagre renovado, quer o possua previamente, nos dois casos a constituição do objeto passou em silêncio. Intro III

Malgrado as intenções do intelectualismo, as duas doutrinas têm portanto em comum essa ideia de que a atenção não cria nada, já que um mundo de impressões em si ou um universo de pensamento determinante estão igualmente subtraídos à ação do espírito. Intro III

Contra essa concepção de um sujeito ocioso, a análise da atenção pelos psicólogos adquire o valor de uma tomada de consciência, e a crítica da “hipótese de constância” vai aprofundar-se em uma crítica da crença dogmática no “mundo”, considerado como realidade em si no empirismo e como termo imanente do conhecimento no intelectualismo. Intro III

A atenção supõe primeiramente uma transformação do campo mental, uma nova maneira, para a consciência, de estar presente aos seus objetos. Intro III

Seja o ato de atenção pelo qual eu preciso a localização de um ponto de meu corpo que é tocado. Intro III

Head falava sumariamente de um “enfraquecimento local da atenção”. Intro III

A primeira operação da atenção é portanto criar-se um campo, perceptivo ou mental, que se possa “dominar” (Ueberschauen), em que movimentos do órgão explorador, em que evoluções do pensamento sejam possíveis, sem que a consciência perca na proporção daquilo que adquire, e perca-se a si mesma nas transformações que provoca. Intro III

A posição precisa do ponto tocado será o invariante dos diversos sentimentos que dele tenho segundo a orientação de meus membros e de meu corpo, o ato de atenção pode fixar e objetivar esse invariante porque ele tomou distância em relação às mudanças da aparência. Intro III

Portanto, não existe a atenção enquanto atividade geral e formal. Intro III

Resta mostrar o próprio objeto da atenção. Intro III

A criança devia sim ver o verde ali onde ele existe, faltava-lhe apenas prestar atenção nisso e apreender seus próprios fenômenos. Intro III

Ora, é a partir do modelo destes atos originários que a atenção deve ser concebida, já que uma atenção segunda, que se limitaria a trazer de volta um saber já adquirido, nos reenviaria à aquisição. Intro III

Prestar atenção não é apenas iluminar mais dados preexistentes, é realizar neles uma articulação nova considerando-os como figuras. Intro III

É precisamente a estrutura original que eles trazem que manifesta a identidade do objeto antes e depois da atenção. Intro III

É justamente subvertendo os dados que o ato de atenção se liga aos atos anteriores, e a unidade da consciência se constrói assim pouco a pouco por uma “síntese de transição”. Intro III

O milagre da consciência é fazer aparecer pela atenção fenômenos que restabelecem a unidade do objeto em uma dimensão nova, no momento em que eles a destroem. Intro III

Assim, a atenção não é nem uma associação de imagens, nem o retorno a si de um pensamento já senhor de seus objetos, mas a constituição ativa de um objeto novo que explicita e tematiza aquilo que até então só se oferecera como horizonte indeterminado. Intro III

Ao mesmo tempo em que aciona a atenção, a cada instante o objeto é reapreendido e novamente posto sob sua dependência. Intro III

Mas pelo menos o ato de atenção acha-se enraizado na vida da consciência, e compreende-se enfim que ela saia de sua liberdade de indiferença para dar-se um objeto atual. Intro III

O resultado do ato de atenção não está em seu começo. Intro III

É preciso colocar a consciência em presença de sua vida irrefletida nas coisas e despertá-la para sua própria história que ela esquecia; este é o verdadeiro papel da reflexão filosófica e é assim que se chega a uma verdadeira teoria da atenção. Intro III

O intelectualismo propunha-se a descobrir a estrutura da percepção por reflexão, em lugar de explicá-la pelo jogo combinado entre forças associativas e a atenção, mas seu olhar sobre a percepção ainda não é direto. Intro III

Se ele ancora o sujeito em um certo “meio”, o “ser no mundo” seria algo como a “atenção à vida” de Bergson ou como a “função do real” de P Janet? A atenção à vida é a consciência que tomamos de “movimentos nascentes” em nosso corpo. Intro I

Para ele, os rostos não são nem simpáticos nem antipáticos, as pessoas só se qualificam a esse respeito se ele lida diretamente com elas e de acordo com a atitude que adotam em relação a ele, a atenção e a solicitude que lhe testemunham. Intro V

Ela aparece quando, em lugar de abandonar todo o meu olhar no mundo, volto-me para este próprio olhar e pergunto-me o que vejo exatamente; ela não figura no comércio natural de minha visão com o mundo, ela é a resposta a uma certa questão de meu olhar, o resultado de uma visão secundária ou crítica que procura conhecer-se em sua particularidade, de uma “atenção ao visual puro” que exerço ou quando temo ter-me enganado, ou quando quero empreender um estudo científico da visão. II I

Mas aqui o psicólogo se furta à sua tarefa: quando reconhece que a grandeza aparente e a convergência não estão presentes na própria percepção enquanto fatos objetivos, ele chama nossa atenção para a descrição pura dos fenômenos, antes do mundo objetivo; ele nos permite entrever a profundidade vivida fora de qualquer geometria. II II

Nós a veremos se colocarmos em suspenso nossas ocupações e dirigirmos a ela uma atenção metafísica e desinteressada. II III

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