Markus Grabriel (SE) – o conceito de propriedade
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A este respeito, o conceito de propriedade desempenha uma dupla função teórica. Por um lado, as propriedades são introduzidas para nos ajudar a compreender por que alguns indivíduos têm algo em comum. Neste sentido, as propriedades são universais, pois afetam vários indivíduos. Chamamos a isso de função de universalidade das propriedades. Em consonância com isso, minha mão direita e minha mão esquerda compartilham a propriedade de ser uma mão; minha mesa de jantar e minha estante compartilham as propriedades de ter cor castanha e de serem feitas de madeira, etc.
Por outro lado, as propriedades também são introduzidas para nos ajudar a compreender por que, em geral, existem indivíduos, ou seja, objetos que ontológica e epistemologicamente gozam de determinação suficiente para não se transformarem constantemente em outros objetos que são completamente diferentes. Chamemos a isso de função de discriminação das propriedades. Sob esse aspecto, referir que um indivíduo tem uma propriedade serve para distingui-lo de outros indivíduos em um determinado âmbito.
Chamo de propriedades autênticas aquelas que podem cumprir ambas as funções, sem gerar por isso paradoxos motivados conceitualmente. De acordo com isso, são propriedades autênticas aquelas às quais podemos nos referir de tal maneira que nos permitem distinguir pelo menos um indivíduo de outro em um âmbito ou de alguns outros nesse âmbito. São propriedades cujo conhecimento nos coloca em condições de distinguir um objeto ou um fato no mundo em relação a outros fatos ou objetos, por meio de uma simples afirmação categórica na forma F é a. O recurso a propriedades autênticas é indispensável para a individuação epistêmica de objetos sobre os quais podemos fazer afirmações verdadeiras. Além disso, é óbvio que temos que tornar compreensível a individuação óntica dos objetos no que se refere ao fato de que eles têm exatamente as propriedades que lhes atribuímos em enunciados verdadeiros. De acordo com este modelo, os indivíduos se distinguem simplesmente pelo fato de terem propriedades diferentes. Consequentemente, podemos conceber os indivíduos como objetos que têm propriedades autênticas.
