Lichtenberg2012

Com o mesmo grau de certeza com que estamos convencidos de que algo ocorre dentro de nós, também estamos convencidos de que algo ocorre fora de nós. Compreendemos muito bem as palavras “dentro” e “fora”. Não há ninguém no mundo, e é improvável que nasça alguém, que não perceba essa diferença; e, para a filosofia, isso é suficiente. Não deve ir além disso; fazê-lo seria um esforço desperdiçado e uma perda de tempo. Pois, seja o que forem as coisas, concorda-se que nada podemos conhecer delas, exceto o que está contido em nossas representações.

Nesse sentido, que considero correto, a questão de saber se as coisas realmente estão fora de nós e realmente são como as vemos é completamente sem sentido. Não é peculiar que o homem insista em ter as coisas duas vezes quando uma vez teria sido suficiente—e necessariamente deve ser suficiente, já que não existe nenhuma ponte entre nossas representações e suas causas? Não podemos conceber nada como existente sem uma causa, mas onde reside essa necessidade? A resposta, mais uma vez, está dentro de nós, uma vez que é completamente impossível para nós sairmos de nós mesmos.

Para mim, pouco importa se alguém deseja chamar isso de idealismo. O nome não faz diferença. Pelo menos, é um idealismo que, através do próprio idealismo, reconhece que existem coisas fora dele e que tudo tem sua causa—o que mais poderíamos querer? Não há outra realidade para os homens, pelo menos não para os filósofos. Na vida cotidiana, estamos corretamente satisfeitos com um nível mais baixo de reflexão. Mas acredito com total convicção: ou devemos nos abster completamente de filosofar sobre esses assuntos ou devemos filosofar dessa maneira. À luz dessa concepção, é fácil ver como Herr Kant está certo ao considerar o espaço e o tempo como meras formas de intuição. Nada mais é possível.