Um sistema novo: a união da alma e do corpo
Leibniz, Essais de Théodicée, p. 38-41 (Aubier, 1962).
Ora, como um dos homens mais capazes do nosso tempo, cuja eloquência era tão grande quanto sua penetração, e que deu grandes provas de uma erudição muito vasta, tinha-se dedicado, por não sei que inclinação, a levantar maravilhosamente todas as dificuldades sobre este assunto que acabamos de abordar em termos gerais; Encontramos um lindo campo para praticar ao entrar em detalhes com ele. É reconhecido que M. Bayle (pois é fácil ver que é dele que estamos falando) tem a seu favor todas as vantagens, exceto a da substância da questão; mas esperamos que a verdade (que ele mesmo reconhece estar do nosso lado) prevaleça nua sobre todos os ornamentos da eloquência e da erudição, desde que seja desenvolvida adequadamente; e esperamos ter sucesso ainda mais, porque é a causa de Deus que estamos defendendo…
Publiquei um novo sistema, que parecia adequado para explicar a união da alma e do corpo: foi aplaudido até mesmo por aqueles que não concordavam com ele… M. Bayle examinou-o em seu Dicionário Histórico e Crítico, artigo Rorarius. Ele acreditava que as oportunidades que eu havia dado valiam a pena ser cultivadas… e ele também representava o que ainda poderia causar dor. Não poderia deixar de responder adequadamente a considerações tão instrutivas quanto as dele e, para tirar mais proveito delas, publiquei alguns esclarecimentos na História das Obras dos Estudiosos, em julho de 1690. M. Bayle respondeu a isso na segunda edição de seu dicionário. Enviei-lhe uma réplica, que ainda não viu a luz do dia; e não sei se triplicou.
No entanto, aconteceu que M. The Cleric, tendo colocado em sua Biblioteca escolhida um extrato do sistema intelectual do falecido M. Cudworth ], e tendo explicado ali certas naturezas plásticas, que este excelente autor usou na formação dos animais, M. Bayle acreditava (veja a Continuação de Vários Pensamentos, cap. 21, art. 11) que, uma vez que essas naturezas carecem de conhecimento, enfraquece-se, ao estabelecê-las, o argumento que prova, pela formação maravilhosa das coisas, que o universo deve ter uma causa inteligente. M. Le Clerc respondeu (4ª arte do 5º volume de sua Biblioth. choisi) que essas naturezas precisavam ser direcionadas pela sabedoria divina. M. Bayle insistiu (7º art. da História das obras dos estudiosos, agosto de 1704)… Meu sistema foi abordado de passagem e isso me deu a oportunidade de enviar um pequeno memorando ao famoso autor, que ele colocou no mês de maio de 1705, art. 9, onde procurei mostrar que, na verdade, o mecanismo é suficiente para produzir os corpos orgânicos dos animais, sem necessidade de outras naturezas plásticas, desde que lhe acrescentemos a pré-formação já inteiramente orgânica nas sementes dos corpos que nascem, contidas naquelas dos corpos dos quais nascem, até as primeiras sementes: o que só poderia vir do autor das coisas, infinitamente poderoso e infinitamente sábio, que, fazendo tudo desde o princípio com ordem, havia preestabelecido toda a ordem e todo o artifício futuro. Não há caos no interior das coisas, e o organismo está em toda parte de uma forma cujo arranjo vem de Deus.
