Transição
(Jullien2009)
“Transição”, para dizer a verdade, parece-me um termo limite, levado ao extremo, que literalmente aponta para o que está em questão, mas não permite pensar além. Ao limitar-se apenas a este termo, rapidamente se estará preso em um beco sem saída – ou como escapar da reflexão sobre o Ser que claramente tropeça aqui? Ou ainda, invertendo a questão: já que passou ao largo do Ser, o pensamento chinês não nos ofereceria novamente um viés conveniente, por meio de seu desvio, para sair desse impasse? Eis que ele nos propõe, de fato, não um termo, mas dois, formando um binômio, entre os quais se pode jogar dialeticamente: “modificação-continuação” (“comunicação”), diz o chinês (bian-tong). Por um lado, esses dois termos se opõem, a modificação à continuação: a modificação “bifurca” e a continuação “prossegue”, uma “inova” e a outra “herda”. Mas, por outro lado, e ao mesmo tempo, cada um dos termos marca a condição do outro: é graças à “modificação” que o processo iniciado não se esgota, mas, renovando-se por meio dela, pode “continuar”; e, reciprocamente, é a continuidade, ou melhor, a continuação, que permite “comunicar” por meio da própria “modificação” que ocorre e faz dela também um momento de passagem.
