Admirável Mundo Novo
(Servier1967)
O balanço negativo da sociedade industrial inspirou a Aldous Huxley seu famoso Admirável Mundo Novo — obra que se tornou uma chave para o pensamento utópico, por finalmente colocar em questão as relações entre o indivíduo e a sociedade.
O objetivo dos dirigentes desse “Admirável Mundo” é a estabilidade social. Eles realizam, por meios científicos, a revolução definitiva: o condicionamento total do indivíduo. A sociedade torna-se um molde no qual o indivíduo é comprimido, reduzido às proporções de um elemento num mosaico.
As crianças de proveta solucionam o problema do incesto que Aristóteles e Platão tentaram em vão resolver. Os homens são preparados para se satisfazerem num rígido regime de castas e condicionados a “amar o que serão obrigados a fazer”.
Huxley recupera para sua cidade radiante o espírito das sociedades tradicionais. O indivíduo é condicionado desde o nascimento, castrado em seu livre-arbítrio, privado de sua consciência como de um órgão inútil, preparado para desempenhar seu papel social: feliz neste mundo por conformar sua vida ao Mito e participar dele em cada gesto.
O Estado totalitário está instalado. O todo-poderoso comitê executivo de chefes políticos controla uma população que já não precisa ser coagida, pois os indivíduos aprendem, desde o nascimento, a amar sua servidão.
Huxley opõe ao “Admirável Mundo” uma reserva de primitivos: índios muito próximos desses Pueblos que atravessam nosso século em sua arca estanque, construída na aurora do Neolítico.
Entretanto, como observa Huxley em sua Introdução, pode existir uma solução intermediária entre esses dois extremos. Exilados fugitivos do “Admirável Mundo” poderiam fundar uma comunidade mais humana, aceitando o progresso técnico sem abdicar da dignidade humana. “A economia seria descentralizada, nos moldes de Henry George; a política seria kropotkiniana e cooperativa. A ciência e a tecnologia seriam usadas como se — tal como o Descanso Dominical — tivessem sido feitas para o homem, e não como se o homem devesse ser por elas escravizado. A religião seria a busca consciente e inteligente do Fim Último do homem. A filosofia de vida dominante seria uma espécie de utilitarismo superior, no qual o princípio da felicidade máxima estaria subordinado ao princípio do Fim Último.”
Assim, Huxley propõe a Terra dos Homens de todas as utopias, equilibrando sob as formas duplas da inteligência e do conforto a felicidade humana na terra. Esta terceira solução é apresentada quase em pontilhado — tão consciente está Huxley de que a humanidade, em sua busca por certa felicidade, acabará no beco sem saída do “Admirável Mundo Novo”.
