hegel:por-que-comeca-a-ciencia-filosofica

Por quê começa a ciência filosófica

Hegel, Science de la Logique (Meiner-Verlag, p. 51-52; cf. Aubier, I, p. 55-56).

Foi somente em nossos dias que ficou claro o quão difícil é atribuir um começo à filosofia, e a causa dessa dificuldade, bem como a possibilidade de resolvê-la, têm sido objeto de muita discussão. O início da filosofia deve ser comunicado por mediação (Vermitteltes) ou imediatamente (Unmittelbares); mas é fácil mostrar que não é nem uma coisa nem outra e, assim, refutar ambas as maneiras de começar.

É verdade que o princípio de uma filosofia também implica um começo, mas um começo menos subjetivo que objetivo, o começo de todas as coisas. O princípio é às vezes um conteúdo mais ou menos determinado — água, o um, o substantivo, a ideia, substância, mônada, etc.; às vezes, quando se relaciona com a natureza do conhecimento e deve, portanto, ser mais um critério do que uma determinação objetiva, é o pensamento, a intuição, a sensação, o eu, a própria subjetividade, mas aqui novamente, como antes, é a determinação do conteúdo que mantém o interesse. Pelo contrário, o começo como tal continua sendo algo subjetivo, sendo uma maneira puramente acidental de abrir uma exposição, sem consequências, de modo que a exigência da questão com a qual se deve começar não tem importância comparada à do princípio: é neste último, ao que parece, que repousa todo o interesse da coisa, o interesse que se tem no que é a verdade, a base absoluta de tudo (der absolute Grund von allem).

Mas a perplexidade que sentimos hoje em relação ao começo decorre de outra necessidade: uma necessidade ignorada, na verdade, por aqueles para quem nunca se trata, dogmaticamente, de provar um princípio, ou ceticamente, de encontrar um critério subjetivo contra o dogmatismo filosófico; uma necessidade repudiada por aqueles que partem de pronto de sua revelação íntima, de sua fé, de sua intuição intelectual e pretendem estar acima do método e da Lógica. Mas se o pensamento abstrato do passado se interessa primeiro pelo princípio por seu conteúdo e, então, com o progresso da cultura, é levado a levar em consideração o outro aspecto, o comportamento do conhecimento, então a ação subjetiva passa, por sua vez, a ser apreendida como um momento essencial da verdade objetiva, e então se sente a necessidade de unir o método com o conteúdo, a forma com o princípio. Assim, o princípio também deve ser o começo, e aquilo que é anterior ao pensamento também deve ser o primeiro no desenvolvimento do pensamento.

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