"Amar um ser é dizer: tu, não morrerás"
Gabriel Marcel, Le Mystère de l’Être, Aubier, 1951, t. II, p. 154-158.
Primeiramente, é legítimo afirmar que a imortalidade é um fato ou apenas uma quimera? A oposição entre real e imaginário, que fundamenta os juízos que fazemos sobre o mundo empírico, é aplicável aqui? A crença na imortalidade pode ser reduzida a um mero miragem? Quem assim afirma demonstra não ter compreendido as perspectivas apresentadas sobre a fé…
Procuremos ser o mais concretos possível. Recordo inicialmente esta frase de um de meus personagens: “Amar um ser é dizer: tu, não morrerás.” Mas qual seria o sentido exato ou o alcance dessa afirmação? Ela certamente não se reduz a um desejo, a um optativo; antes, apresenta o caráter de uma certeza profética. Porém, que garantia poderia fundamentar tal certeza? Do ponto de vista do empirista ou do positivista, ela só pode ser julgada absurda, pois não contradiz formalmente os dados da experiência? O ser que amo está exposto a todas as vicissitudes que afetam as coisas e, indubitavelmente, na medida em que participa da natureza das coisas, está sujeito à destruição.
Contudo, atentemos bem: toda a questão — bastante obscura, é verdade — reside em saber se essa destruição pode atingir aquilo pelo qual esse ser é verdadeiramente um ser. Ora, é essa qualidade misteriosa que o amor visa. Admito, aliás, que o termo “qualidade” aqui é inadequado, pois qualidade é um predicado, e, como frequentemente dissemos, a ontologia transcende toda lógica predicativa; mais do que em qualquer outro lugar, a linguagem aqui se revela insuficiente. Reconheçamos plenamente que esse ser que amo não é apenas um tu; é antes um objeto que se oferece ao meu olhar e sobre o qual posso realizar todas as operações possíveis dentro de minha condição de agente físico. Ele é um isso e, nessa medida, uma coisa; enquanto tu, porém, escapa à natureza das coisas, e nada do que digo sobre elas pode concerni-lo, pode concernir-te.
Isso suscita, sem dúvida, grandes dificuldades. Estaríamos reintroduzindo, em condições precárias e perigosamente equívocas, a distinção tradicional entre númeno e fenômeno? Limitar-nos-íamos a dizer que apenas o fenômeno está sujeito à destruição, enquanto o númeno seria indestrutível? Tal interpretação implicaria a mais grave incompreensão do que foi dito. O númeno, de fato, ainda é um isso, e sempre poderemos nos perguntar se não se trata de uma pura ficção elaborada pelo pensamento abstrato a partir do dado empírico.
Não é do ponto de vista do númeno que se pode afirmar a indestrutibilidade do ser amado; ela pertence antes a um vínculo, não a um objeto. A certeza profética mencionada poderia ser formulada assim: “Quaisquer que sejam as mudanças naquilo que vejo, tu e eu permaneceremos juntos; o evento ocorrido, sendo acidental, não pode anular a promessa de eternidade contida em nosso amor.”
Como não perceber, porém, que essa ideia de implicação também levanta objeções graves? Mesmo admitindo que o ato pelo qual seres que se amam se vinculam envolva uma exigência de perenidade, o que nos permite afirmar que essa exigência é satisfeita em algum âmago do real que se furta a nossos olhos?
Talvez se pudesse observar, primeiro, que essa noção de um “âmago” é resíduo de um certo realismo ainda tributário de uma ideia confusa: a de uma materialidade onde o espiritual se inscreveria em sulcos duráveis, como os feitos por uma agulha em um disco de cera. Mas, na verdade, é o estatuto metafísico da esperança que importa abordar — da esperança em seu caráter específico, enquanto se opõe ao desejo.
Antes, porém, convém examinar a segunda objeção, formulada em nome de uma concepção teocêntrica da religião. Trata-se de saber se podemos dissociar radicalmente a fé em Deus — concebido em sua santidade — de toda afirmação sobre o destino da união intersubjetiva formada por seres que se amam e vivem uns nos outros. É o destino dessa união, e não o de uma entidade isolada e fechada em si, que verdadeiramente importa. É ela que visamos, mais ou menos explicitamente, ao afirmarmos nossa fé na imortalidade pessoal.
Assim, cabe indagar: posso afirmar que esse Deus santo ignoraria nosso amor, tratando-o como acidental ou insignificante, ou mesmo desejando seu aniquilamento? No fim das contas, essas reflexões nos conduzem a um realismo do espírito, cujo pleno significado só se revela à luz da intersubjetividade — ou seja, do amor. Mas seria concebível que um Deus que se oferece ao nosso amor se voltasse contra ele para negá-lo ou destruí-lo?
Acrescento que, do ponto de vista de uma doutrina da intersubjetividade, não há razão para atribuir valor exclusivo à relação entre homem e mulher unidos pelo matrimônio. Uma amizade ou, sobretudo, uma relação filial também podem ser caminhos que ultrapassam o que chamamos de horizonte terrestre. Observo, de passagem, que talvez não faça sentido atribuir um caráter literalmente supraterrestre a esse invisível onde o destino intersubjetivo se cumpre. É mais razoável admitir que, se a palavra além tem sentido — como certamente tem —, ela não designa um outro lugar acessível pela saída deste. Melhor seria pensar, conforme sugere, por exemplo, a obra de Mr. Stewart White, que o chamado além consiste em dimensões ou perspectivas desconhecidas de um universo do qual só apreendemos um aspecto, adaptado à nossa estrutura organopsíquica.
Um pensamento aberto está, por essência, orientado para esse desconhecido. Aqui, porém, pode surgir uma confusão lamentável entre o que se poderia chamar de vontade de exploração (movida por certa curiosidade) e a esperança propriamente dita. Não hesito em admitir que só denunciando essa possível confusão se pode traçar a linha indispensável entre o domínio metapsíquico e a esfera da religião.
