Método genético em Fichte
VetoKS
Estudar o conhecimento em termos de advento a partir da consciência é um exemplo da busca pelas origens; porém, no idealismo transcendental, a origem é compreendida como causa, não apenas como tempo e lugar de nascimento. Desde Aristóteles, a filosofia privilegia, acima de tudo, a explicação causal, mas, de certa forma, a verdade dessa explicação só aparecerá no idealismo transcendental, através do método genético. A interrogação genética é uma busca pelas origens, mas a noção de origem é aqui radicalizada. Em primeiro lugar, a causa não se contenta em produzir um efeito para depois se separar dele, mas continua a produzi-lo. Em segundo lugar, ela é causa eficiente apenas enquanto é causa formal. Ela não produz o efeito apenas em sua existência, mas também é o princípio de sua essência: o conhecimento se desdobra e se articula em virtude das estruturas próprias da consciência. E, finalmente: a busca pelas origens não é uma arqueologia objetiva, um exame científico e distanciado, mas exige um envolvimento radical do pesquisador, do próprio sujeito. O método genético não é uma interrogação distante e neutra, um processo no qual o próprio sujeito está engajado. O sentido próprio, o sentido estrito da explicação pela causa, é ser — ou tornar-se — ele mesmo essa causa. E a Wissenschaftslehre tenta desdobrar, em estrita metafísica, essa condição causal do sujeito do conhecimento.
Na realidade, trata-se aqui de repensar, segundo as exigências específicas do idealismo transcendental, uma antiga intuição dos homens: só se pode compreender verdadeiramente aquilo que se pode fazer por si mesmo, donde se segue que só se compreende efetivamente o que se fez — ou refez — por si mesmo. Jacobi escreve em uma célebre carta a Fichte: “Só compreendemos uma coisa na medida em que a construímos, em que podemos, no pensamento, fazê-la nascer, surgir diante de nossos olhos”. E em um suplemento anexo a essa carta, ele se explica com mais detalhes: “Nos apropriamos do universo ao dissecá-lo e criamos… um mundo conforme às nossas aptidões. O que construímos dessa maneira, compreendemos perfeitamente, na medida em que é nossa criação; o que não podemos criar dessa forma, não compreendemos; nosso entendimento filosófico não vai além de sua própria produção… Concebemos um objeto quando podemos representar suas condições em série, ou seja, quando podemos deduzi-lo a partir de suas causas mais próximas em uma conexão perfeita”.
Jacobi apresenta aqui, em resumo, o princípio genético que é, por assim dizer, o núcleo primitivo do idealismo, ainda antes de qualquer formulação transcendental. O método genético é, à primeira vista, apenas uma reformulação do antigo princípio da explicação causal. “Vere scire est scire per causam” — dizem já Hobbes e Spinoza. Porém, o verdadeiro saber causal estará na origem do conhecimento genético dos idealistas. Hobbes insiste na necessidade de seguir a ordem da “geração”, não a dos “produtos (generati)”, de se colocar na escola não do produto e do resultado do pensamento, mas de seu agir, de seu funcionamento. Hobbes, e sobretudo Spinoza, enfatizam o caráter paradigmático do conhecimento geométrico. Ora, se Spinoza expõe a Ética more geometrico, não é por homenagem à precisão e à regularidade imaculadas das figuras geométricas, mas em virtude do fato de que o espírito as compreende perfeitamente na medida em que as constrói, sem intervenção exterior, a partir de si mesmo.
O método genético combina, portanto, a busca pelas origens com a exigência de fazer ou refazer por si mesmo o percurso noético. Porém, esses dois momentos sofrerão uma sutil transposição no idealismo transcendental. A busca pela origem será dissociada de qualquer investigação cronológica, e a realização efetiva do percurso pelo sujeito filosofante será repensada em termos de dedução transcendental. A legitimidade do conhecimento é confirmada pela dedução, que não pretende fazer com que o pensador reelabore efetivamente os conceitos, mas sim demonstrar que os conceitos são pensados pelo sujeito transcendental. A Crítica prova a condição a priori dos conceitos na medida em que os remete à unidade da apercepção transcendental. O a priori é uma cifra do sujeito puro, e o método genético, que está no cerne da Crítica, verifica a construção dos conceitos como se realizando exclusivamente em um plano específico, a saber, o da subjetividade transcendental. Kant, que aliás usa raramente o adjetivo “genético”, apresenta, no entanto, o essencial da noção na exposição do conhecimento transcendental. A Crítica distingue a lógica formal da lógica transcendental: a primeira aspira à clareza, a segunda quer assegurar-se da origem de seus conceitos. Ao contrário dos dogmáticos, que só se interessam pelas regras do pensamento tais como são dadas, a Crítica ambiciona a compreensão de sua origem, busca seu ato e lugar de nascimento. O dogmático se contenta em usar, em sua factualidade, os conceitos de que dispõe, sem se perguntar de que maneira e com que direito os obteve. A metafísica genética não é arqueologia, mas antes “arquiologia”. Ela busca o princípio que continua a se desdobrar no conhecimento e que permitirá, posteriormente, apreender sua continuidade e conexões. A Crítica vai além da simples observação das formas do conhecimento, das maneiras como ele funciona; ela quer também reencontrar seus princípios, seus fundamentos, na medida em que não cessam de fundamentar e, portanto, de produzir o pensamento tal como ele é.
