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Heidegger e o Tao

SavianiOH Se o confronto com o taoísmo se manifestou, como veremos, em menções significativas mas esporádicas ao Chuang-tzu e na breve colaboração com Hsiao — da qual, aliás, não se detectam traços explícitos em suas obras póstumas —, o confronto com o budismo zen está documentado por uma série de testemunhos muito mais numerosos. De fato, exceto pelo intenso encontro com o monge budista tailandês Maha Mani, da tradição Theravada, o interesse de Heidegger pelo budismo sempre se dirigiu às tradições Ch’an e Zen, alimentado principalmente pelo contato direto com pensadores japoneses da chamada “Escola de Kyoto”, que frequentaram seus cursos desde os anos 1920. Desde então, como veremos, os contatos com Heidegger só se intensificaram e sempre assumiram o caráter de um interesse recíproco e profundo. Pense-se, como primeiro exemplo indicativo, no que escreve o estudioso japonês Eiho Kawahara sobre seu primeiro encontro com Heidegger em 1956: “Encontrei-me com ele pela primeira vez na companhia do professor Masaaki Kōsaka, hoje falecido, na cabana de Todtnauberg. Fomos apresentados pelo professor Tokuya Kakihara. (…) 'Qual é a palavra japonesa que equivale a “ser”?' 'É sonzai ou u.' Com o professor Kōsaka no meio, éramos obrigados a responder às perguntas que Heidegger nos fazia com uma atitude totalmente passiva. Heidegger ouvia nossas respostas secas e apressadas com uma atenção excepcional, tomava notas e depois voltava a nos questionar com perspicácia. Muitas vezes, ficávamos em dúvida e nos sentíamos sobrecarregados. Seu olhar apaixonado era tão penetrante que parecia querer saborear, por trás de nossas respostas forçadas, a essência do pensamento asiático. Nos ensaios Logos, Moira, Alētheia etc., nos quais Heidegger trata do pensamento grego, domina uma tensão que, por assim dizer, tira o fôlego e quase sufoca. Acho que o motivo está no fato de que Heidegger quer capturar à força, em Parmênides e Heráclito, suas próprias questões. Como o pensamento asiático lhe era ainda mais distante que o grego, seu ardor se multiplicava e, inevitavelmente, nos sentíamos constrangidos. E assim, poucas horas depois, quando chegou a hora de deixar a cabana, todos percebemos que chovia torrencialmente.” ]

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