Solidão (Cioran)
ECCD
A desproporção entre a infinitude do mundo e a finitude do homem é um motivo sério para o desespero; sendo considerada, apesar disso, de uma perspectiva onírica — como a dos estados melancólicos — ela deixa de ser torturante, pois o mundo cobre-se de uma beleza estranha e doentia. O sentido profundo da solidão implica uma suspensão do homem na vida — um homem atormentado, em seu isolamento, pelo pensamento da morte. Viver só significa nada mais pedir, nada mais esperar da vida. A morte é a única surpresa da solidão. Os grandes solitários nunca se retiraram para se preparar para a vida, mas, ao contrário, para esperar, resignados, seu desfecho. Não se saberia tirar, dos desertos e cavernas, uma mensagem para a vida. Ela mesma não condena, com efeito, todas as religiões que nisso tiveram sua fonte? Não há, nas iluminações e transfigurações dos grandes solitários, algo de uma visão do fim e do colapso, oposta a qualquer ideia de auréola e luz?
