François Chenique (Logique) – O Termo
François Chenique. Elementos de Lógica Clássica (FCELC1)
Segundo François Chenique, denomina-se “termo” (terminus) o objeto que é apreendido pela primeira operação da inteligência, e enquanto apreendido, quer dizer enquanto se encontra no espírito. Convém assim distinguir o termo mental, conceito, e aquilo pelo qual se exprime, o termo oral: o termo oral ou escrito é o signo do conceito, como o conceito é o signo da coisa. Sendo o conceito distinguível como conceito formal e conceito objetivo.
O conceito ou termo mental nos aparece como o resultado do ato de simples apreensão na inteligência. Logo supõe a simples apreensão de um objeto considerado como inteligível, no caso os objetos apontados pelos argumentos de um discurso textual. A redução dos argumentos aos termos chaves que representam objetos referenciados pelo discurso textual se dá por aproximações sucessivas de leitura. Cabe ressaltar que o conceito (grego ennoema, noema) é distinto do termo oral ou escrito (onoma, dictio) que nada mais é que sua expressão.
O conceito ou termo mental é a representação intelectual de um certo objeto.
CONCEITO OU TERMO MENTAL
- Conceito
O espírito humano concebe as coisas, e o fruto desta concepção é o conceito. Em nossa relação com o discurso textual pela leitura “afinamos” conceitos entre autor e leitor. A imagem é aqui evidente, e convém distinguir:
Conceito subjetivo (ato do sujeito): o ato mesmo do mental que concebe (actus ipsius mentis);
- Conceito objetivo (resultado do ato do sujeito): aquilo que exprime o conceito, quer dizer o resultado do ato mental.
- Ideia (eidos)
Significa “forma”, e conceito reproduz em nós as formas ou similitudes dos objetos; eidos significa também “espécie”, é pelas espécies (e pelas diferenças específicas) que conhecemos os objetos. Na leitura dos discursos textuais ecoam-se ideias do autor no leitor, segundo a abertura e a adequação do objeto tratado à inteligência de ambos.
- Termo (terminus)
O conceito é denominado por vezes “termo”, pois aparece como o termo ou término do ato simples de apreensão; Para Aristóteles, o termo (horos) é o que se obtém decompondo o juízo; é ainda, para ele, aquilo que limita ou determina a proposição em um silogismo. O termo designará portanto, para nós, o conceito quando entra em um juízo ou um raciocínio, que compartilhamos em um ato de leitura.
- Noção (notio)
O conceito é uma noção, quer dizer aquilo que é conhecido (gnosis), ou aquilo por qual a inteligência conhece. O princípio do adaequatio, da adequação do objeto à inteligência é determinante na formação deste conhecido, da noção.
- Apreensão (aprehensio)
O objeto é como prendido, apreendido pelo conceito. O ato de leitura é um processo de apreensão, onde conceitos se negociam entre leitor e autor.
- Intenção (intentio)
Pelo conceito, o mental é como que dirigido para um objeto, segundo a etimologia de “intendere”: tender para. A intencionalidade fenomenológica é fundamental na observação deste processo de “leitura” de conceitos.
- Razão (ratio)
Significa “relação”, que é um dos sentidos do grego logos (verbum). O conceito estabelece uma relação entre os objetos e o espírito que conhece. A razão estabelece uma relação entre autor-leitor. A razão se expressa no hyperlink associando termo no texto a seus contexto virtual.
- Espécie expressa (species expressa)
Graças ao conceito, o espírito humano exprime para si mesmo o objeto concebido, o conceito sendo então uma expressão direta da coisa no espírito que conhece. Esta noção é importante na teoria do conhecimento, pois a espécie expressa é uma similitude exprimida pela inteligência e na qual esta contempla o objeto que apreende.
Convém evocar aqui o problema da identificação pelo conhecimento. Aristóteles diz no terceiro livro do De Anima que «a alma é em certo sentido todas as coisas…» pois o ato do sensível e aquele do que sente são um e o mesmo ato. Se na sensação, o sensível e o sentidor têm um ato comum “subjetivado” neste último, do mesmo modo, na intelecção, a inteligência e o inteligível se unem, mas em uma identificação muito mais profunda dos dois elementos. São Tomás retomou a doutrina de Aristóteles e a precisou pelos diversos “graus de identificação” que variam segundo a natureza dos seres conhecidos. A doutrina da Escolástica se resume neste adágio célebre: “O intelecto em ato é o inteligível em ato” (intellectus in actu est intellectum in actu). No ato de inteligência, o intelecto se identifica àquilo que é o inteligível no objeto, quer dizer sua forma, reflete sua essência, enquanto esta é abstrata ou destacada da matéria. A imaterialidade, quer dizer a forma em ato, é logo para um objeto aquilo que o situa ao nível do conhecimento o torna inteligível. No caso do ato de leitura a abstração já sendo dada pelos termos referentes a atos ou fatos no texto, transpõe direto para a imaginação o que se dava entre sujeito e objeto, promovendo de imediato esta relação inteligência-inteligível.
TERMO ORAL
O termo oral é um signo sensível arbitrário que exprime noções.
- O termo é um signo
O signo é o que nos permite alcançar o conhecimento do outro. Logo é signo tudo que nos manifesta alguma coisa de diferente dela mesma. É preciso distinguir dois tipos de signos:
- o signo formal é uma coisa que nos conduz ao conhecimento de uma outra coisa por meio de similitude.
- o signo instrumental é uma coisa que nos conduz ao conhecimento de outra por meio de similitude e de uma conexão (ou relação).
natural, se a conexão tem a natureza mesma das coisas
- artificial ou arbitrária, se a conexão resulta de uma decisão humana, como é o caso em geral da hipertextualização.
- O termo é um signo arbitrário
- O termo é um signo sensível
- O termo exprime noções, e mo caso do discurso hipertextual, aponta o desdobramento desta noções em um contexto virtual do texto.
O termo é assim o signo do conceito (termo mental) como o conceito é o signo da coisa. No pensamento de São Tomás, o termo é o que significa imediatamente o conceito, pois ele é o conceito expresso oralmente ou por escrito: “As palavras significam diretamente os pensamentos, e as coisas por sua intermediação”. Para os escolásticos, com efeito, os conceitos são sob certo ponto de vista as coisas elas mesmas posto que delas exprimem a essência. Retomando a distinção feita acima podemos dizer que o termo oral é um signo instrumental e que o conceito é um signo formal. E, no discurso hipertextual, se evidencia a importância do termo identificado como nó da rede discursiva que se estabelece pela textualização que se faz hipertextualização.
