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charles_taylor:morte-da-linguagem

Morte da linguagem?

(CTaylor2018)

Esse medo de a linguagem se tornar morta, de perder sua ressonância, é recorrente na cultura moderna, e não apenas em relação à literatura. Vemos isso em Heidegger, por exemplo, em seu contraste entre o “Gerede” conformista vazio (“fala ociosa”) e a fala autêntica. Trata-se de uma preocupação essencialmente moderna, porque depende do senso moderno do potencial da linguagem como Poesia (Dichtung), e da consequente distinção entre fala criativa e ordinária. Somente em relação a essa elevada vocação da linguagem poética pode surgir esse medo da queda. O medo é o da perda do poder performativo. Ele é contemporâneo da poética moderna. Foi expresso pelos pensadores fundadores da década de 1790 e tem se repetido desde então, juntamente com a esperança de que a nova criação poética possa reverter a queda. Esse era o sentido da homenagem de Mallarmé a Edgar Allan Poe por ter assumido a vocação de “donner un sens plus pur aux mots de la tribu” (dar um sentido mais puro às palavras da tribo).

A apreensão de que a linguagem está em constante perigo de ser rebaixada, manchada, tornando-se inautêntica, é recorrente. Vemos isso de formas diferentes no início do século XX com Karl Kraus e George Orwell. No campo da arte, foi cunhada uma palavra para esse colapso em banalidade e sentimento vazio: kitsch.

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