Byung-Chul Han (2024) – o filósofo, um “artista da separação”
No último capítulo da Crítica da razão prática, Kant caracteriza a ciência como uma doutrina da sabedoria: “a ciência (buscada criticamente e introduzida metodicamente) é a porta estreita que conduz à doutrina da sabedoria”]. A filosofia, segundo Kant, é a guardiã dessa ciência rigorosa. No entanto, na falta da matemática, ela trabalha com um método semelhante ao da química, a saber, com a “separação”]. Como um “artista da separação”, o filósofo tem que isolar algo constante, uma lei ou princípio geral, a partir da multiplicidade empírica. Por meio da separação e da distinção, o pensamento tem que avançar para uma camada estável. Nisso, o artista da separação de Kant não difere essencialmente do geólogo cartesiano, que cava em busca de um fundamento estável, ou melhor, inabalável. No Discurso do método, Descartes escreve: “ todo o meu intuito tendia tão-somente a me certificar e remover a terra movediça e a areia, para encontrar a rocha ou a argila”]. O Deus de Descartes não é nada além do guardião ou garantidor da certeza concebida como imutabilidade:
Também sabemos que Deus é a perfeição, não só por ser de natureza imutável, mas sobretudo porque age de uma maneira que nunca muda, e isso é tão verdade que, excetuando os movimentos e mutações que vemos no mundo , não devemos imaginar outros na Sua obra, sob pena de Lhe atribuirmos inconstância ].
(ByungA)
