Blondel (1936) – sujeito-objeto
(Blondel1936)
«Por que, perguntaram-me, não começar La Pensée tomando como ponto de partida o dado atual de nossa consciência, naquilo que ela tem de claro e aparentemente simples e autossuficiente ?» (L’Action, I, 1936, 307)
«Eu não quis fornecer o menor pretexto para o erro que me atribui uma doutrina subjetivista, ora cartesiana, ora kantiana, ora intuitionista, ora imanentista.» (Ibid.)
«No entanto, não foi por razões estratégicas que demorei a falar do despertar da consciência e do desenvolvimento das fases implicadas pela percepção e pela reflexão. Foram razões doutrinais, e não apenas metodológicas ou didáticas, que me levaram a proceder a partir das origens mais distantes e das preparações mais inconscientes de nosso pensamento.» (Ibid.)
«O primeiro movimento do conhecimento vai espontaneamente, normalmente, indispensavelmente ao objeto, e (…) o retorno do pensamento sobre si mesmo é posterior a essa apreensão inicial, suscitada pela realidade que especifica o conhecedor pelo conhecido. (…) Se, por absurdo, considerarmos o estado subjetivo como uma dada totalmente primitiva, como um estado absolutamente simples, novo, autossuficiente em sua originalidade aparente, por mais real que possa ser sob vários aspectos, seríamos levados a separar o cogito do cogitatum, a colocar de um lado o mundo do pensamento e de outro o mundo da realidade, para depois sermos arrastados a resolver esse dualismo insustentável e ininteligível em um idealismo que acabaria por desembocar em um imanentismo e em um subjetivismo incuravelmente total. É por isso que insisti essencialmente em fazer da consciência não um ponto de partida, mas um meio que nos permite irradiar para os subsolos, os arredores, as intimidades, os altos do pensamento.» (Ibid., 308-309)
«O dualismo cartesiano, o criticismo kantiano, o idealismo e o imanentismo que foram suas consequências diversificadas resultam de um falso problema inicial. Ao separar desde o início, ao opor até mesmo o sujeito e o objeto, o inteligível e o real, o conhecimento e o ser, o pensamento e a ação, a pesquisa filosófica se condenou a dificuldades artificiais, insolúveis e esterilizantes.» (Ibid., 339)
«Tal afirmação do sujeito por si mesmo responde, sem dúvida, a uma necessidade, constitui um progresso que se pode tornar inteligível, mas (…) esse trabalho intelectual (…) não é o termo do pensamento. (…) Há, portanto, uma espécie de superstição no culto ao pensamento pensante que se toma a si mesmo como fim, mesmo que se contente com sua mobilidade incessante (…). Falso misticismo, idolatria essa exaltação do sujeito, fundando suas certezas em si mesmo, apenas nele, e aproveitando-se do fato de que, de fato, ele resolveu de certa maneira o problema do uno e do múltiplo para constituir praticamente, ou mesmo especulativamente, um egocentrismo, um idealismo ora individualista, ora personalista, ora humanitário, socializante, comunista.» (Ibid.)
