Blondel (1936) – a gênese do pensamento
(Blondel1936)
«Poder-se-ia objetar que o que é primeiro em relação a nós é, de certa forma, o último em si mesmo, tanto na ordem científica quanto na ordem ontológica, e alguém poderia insistir que devemos partir, para filosofar, do ponto em que se encontra uma razão adulta, uma inteligência capaz de refletir sobre os dados da experiência e do senso comum. Mas essa pretensão nos condenaria à imprecisão, ao arbitrário e à esterilidade. Como fixar, de fato, o que em nosso pensamento pensante é realmente primitivo, genuíno, comum a todas as épocas e a todo espírito reflexivo? (…) Como discernir o que resulta das condições pré-conscientes da consciência, o que mergulha suas raízes no solo obscuro e o que eleva sua copa em direção ao futuro ou a uma ordem superior à nossa prospecção atual, condicionada ela mesma por motivações secretas ou aspirações íntimas que nenhuma constatação imediata poderia definitivamente captar ou esgotar?» (L’Action, I, 1936, 309-310)
«É, de fato, a partir de um ponto de vista genético e seguindo a própria ordem da natureza e da vida que podemos, sem romper as conexões naturais e sem confundir as condições contingentes com a Causa verdadeira e transcendente, apresentar uma história verídica ao mesmo tempo que uma explicação inteligível do pensamento, na medida em que, ao tomar posse de si mesmo na vida pessoal dos espíritos, ele nos obriga a remontar à sua verdadeira fonte e a nos orientar para sua perfeição verdadeira. Vê-se, assim, até que ponto a aparente satisfação que se daria a alguns leitores, ao ceder aos hábitos dos modernos – preocupados de maneira demasiado exclusiva com o aspecto subjetivo dos problemas – desnaturaria a tarefa do filósofo e nos exporia a reduzir a ontologia a uma gnosiologia, a gnosiologia a um imanentismo, e esse próprio idealismo a um pragmatismo em que desaparecem as noções de verdade, de norma e de realidade transcendente. Ao mesmo tempo, e por um inconveniente simétrico, um exame limitado às perspectivas que os métodos subjetivos ou mesmo objetivos da psicologia e da psicofísica nos permitem alcançar através do prisma das interpretações conscientes corre o risco de nos fazer esquecer as realidades físicas ou biológicas, na medida em que, inacessíveis a partir de dentro, contribuem, no entanto, para a gênese e para o realismo fundamental do pensamento. As raízes do pensamento mergulham no universo inteiro; não se deve, portanto, começar por cortá-las sob o pretexto de estudar melhor e de captar mais claramente o segredo da vida mental.» (L’Action, I, 1936, 310-311)
