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Archambault (1928) – Blondel "A Ação"

(Archambault1928)

Eu ajo. A ação é um fato. Mais mais do que um fato, ela é uma necessidade. Mais mais do que uma necessidade, ela é uma obrigação. É preciso agir — mas entre o que sei, o que quero e o que faço, surge sempre uma desproporção desconcertante. « Às vezes, não faço tudo o que quero; outras vezes, faço quase sem perceber o que não quero. E essas ações… assim que são realizadas, pesam sobre toda a minha vida… Sinto-me como seu prisioneiro » (Ação, p. IX). Impossibilidade de me abster ou de me reservar; impossibilidade de me satisfazer ou de me bastar: eis a dupla constrição, a dupla dependência que um primeiro olhar sobre minha condição revela. Como explicar e justificar a mim mesmo essa dependência? Como fazer com que minha liberdade e minha razão ratifiquem o que me é assim imposto? Se meu destino é apenas cumprir, contra minha vontade, um papel que me repugna e que nem mesmo compreendo, há aí, ao mesmo tempo, uma tirania odiosa e uma limitação intolerável. « O ser involuntário e constrangido não é mais o ser ». Como fazer para que eu não seja nada que eu não queira? Como harmonizar em mim o movimento espontâneo e o movimento refletido da vontade?

Assim começa o célebre volume, e difícil de encontrar, que está na origem, pelo menos imediata, do movimento de pensamento que estamos estudando. E podemos notar imediatamente a originalidade do ponto de vista e do método. A especulação filosófica parte, às vezes, de uma observação experimental do mundo exterior, outras vezes, de uma análise abstrata das condições e das leis do conhecimento. Aqui, porém, é o homem que está em questão, não apenas o homem que conhece, mas o homem que age, ou seja, aquele que concentra todas as suas recursos materiais e espirituais (incluindo, é claro, os da inteligência e do pensamento) em direção a um fim.

Não se trata de prescrever-lhe a priori regras de conduta que talvez não tenham relação com sua natureza e suas aspirações profundas, como fazem às vezes os moralistas. Também não se trata apenas de descrever, como um anatomista, as peças e articulações de sua máquina, estudada, por assim dizer, em estado de repouso. Mas sim de seguir, sem preconceitos ou preconcepções de qualquer tipo, o determinismo intrínseco e a lógica imanente da vida humana, buscando descobrir se existe algum meio de igualar nela o fim ao princípio, a conclusão ao postulado, a satisfação à aspiração, de realizar tudo o que ela carrega em si de pressentimentos e exigências. Nada de arbitrário, nada de forçado! Nenhuma aposta, como a de Pascal! Nenhum imperativo categórico surgindo de não se sabe qual noite! «Que eles sejam seus próprios árbitros! Que vejam aonde os levaria sua vontade mais franca e íntima; que aprendam o que fazem sem saber, e o que já sabem sem querer ou sem fazer».

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