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Barbuy: Três concepções do ser

Ora o ser pode afirmar-se de dois modos e negar-se de um modo. O ser pode afirmar-se univocamente. O ser pode afirmar-se analogicamente. E o ser pode negar-se equivocamente. O unívoco, o equívoco, o análogo, tais são os três aspectos debaixo de um ou outro dos quais podemos considerar o que é, do ponto de vista lógico.]

Se dissermos que o ser é unívoco, colocar-nos-emos no ponto de vista lógico, sem atentar para a inteligibilidade análoga do real e afirmaremos que a palavra ser designa sempre um só e o mesmo objeto; afirmamos o Ser mas negamos os seres, que se tornarão simples aparências; toda a realidade se reduzirá a um único ser e desta concepção nascerão as mais variadas formas da filosofia monista, todos os panteísmos e todos os idealismos absolutos, bem como todo materialismo.

Se porém dissermos que o ser é equívoco, afirmaremos que em cada caso a palavra ser designa um objeto diferente; reconheceremos a multiplicidade dos seres, mas não poderemos reconhecer a possibilidade do conhecimento, o qual não é senão conhecimento do que é comum, genérico, idêntico em muitos seres. Assim nasce o ceticismo duma concepção equívoca do ser, (subordinado ao conhecer) e negando toda possibilidade do conhecimento.]

Ora, se ao contrário afirmamos a analogia do ser, afirmaremos que a palavra ser tem significações parcialmente distintas, indicando porém uma unidade ôntica, a qual não faz de todos os seres um único ser, nem de cada um deles um objeto inteiramente distinto. Quer dizer, ao afirmar a analogia do ser, adequamos a inteligência ao inteligível, realizamos uma adaequatio intellectus cum re (porque os seres existentes se apresentam todos como seres mas cada um a seu modo) e afirmamos que tudo quanto é, é, mas nem tudo quanto é possui o ser da mesma maneira e segundo a mesma definição.

De modo que, esquematicamente, e abstraídas as diversidades internas, as três possíveis atitudes da filosofia diante do mistério do ser se resumem no seguinte: Se o ser é unívoco, há o Ser, mas não há os seres. Se o ser é equívoco, há seres, mas não há Ser (se bem que o ceticismo nada possa afirmar, nem negar). Se o ser é análogo, há os seres e há o Ser, e neste caso a inteligência se adapta à realidade, sem querer adaptar a realidade ao pensamento. Na concepção análoga do ser, a verdade lógica coincide com a verdade ontológica.

Que a concepção análoga do ser seja a única explicativa da estrutura ôntica da realidade, é o que se pode ver pelas contradições internas de toda concepção unívoca do ser.

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