Baader (FC:V,31) – a produção do conceito
(BaaderFC)
Hegel fala em várias ocasiões sobre a gravidade e o esforço que condicionam a produção do conceito como dores do parto, mas Böhme explica com precisão esse parto doloroso seguindo todos os momentos de seu desenvolvimento 1). De fato, assim que começa essa realização da palavra ou essa organização do conceito (essa autofundamentação ou esse autoaprofundamento), ocorre uma organização contraditória, um obscurecimento (o da natureza sombria) que deve ser primeiro destruído, e cuja contradição deve ser resolvida para que se possa chegar, por meio e nesse aniquilamento e nessa solução, à segunda organização, a do conceito luminoso, ou seja, da palavra ou da clareza. O aniquilamento dessa primeira organização (dessa primeira realização imediata) produz, segundo J. Böhme, em primeiro lugar, a força da individualidade ou da espontaneidade (o eu em Deus e a criatura), e é apenas na força de aniquilamento e de divisão do fogo que o espírito, ao se separar da natureza, adquire um conhecimento dessa natureza e um poder sobre ela (livre em relação à natureza, o que, é claro, não é desprovido de natureza — scientia et potentia in idem coincidunt). Com esse conceito de natureza eterna, como se encontra apenas em J. Böhme, a filosofia deste último vai mais longe do que a de todos os seus predecessores e sucessores, e ele mesmo diz repetidamente que ninguém o entenderá se não compreender sua ideia de natureza eterna (do centrum naturae).
Desse “tormento de si mesmo”, como dizem, não sabem nada, é verdade, todos aqueles a quem, como diz Hegel, não o Deus da luz, mas o Deus dos sonhos distribui seus dons durante o sono, e que se limitam à invenção dos tempos modernos, que conhece a arte de unir duas coisas: a aparência da seriedade e o esforço para ter sucesso, e, na realidade, a economia desse esforço. — Esse sincretismo, radicalmente mau, é o ponto fraco de nosso tempo, e em todos os lugares (na religião, na ciência, na arte e na política) vemos os homens seriamente ocupados, ao que parece, com o jogo da forma (da “figura”), não apenas tomando o prazer que essa simples forma lhes concede pelo prazer da coisa em si, mas também, com esse prazer, ocupados em silenciar a voz da consciência que reclama a coisa, “mantendo-se, diz Saint-Martin, sempre com alegria ao lado, para não ter que entrar no cerne da regeneração” 2). — O nascimento e a saída do eu fora do não-eu (da natureza subordinada), expostas no texto, Fichte, como se sabe, as entendeu mal, no sentido de que declarou o momento do conflito dos dois ou seu estado de guerra (bellum internicinum) à imagem de Hobbes como o único possível, ou seja, como permanente, permanência que vale, é verdade, para o espírito contrário a Deus e à natureza, para o espírito subordinado à natureza — o espírito demoníaco. Ver Sobre a força da adivinhação, p. 54, nota 3).
