Baader (FC:V,30) – verbo ou conceito
(BaaderFC)
“Se você não viu (diz Maistre, Soirées II, 280), pelo menos não será acusado de não ter olhado bem.” — Essa distinção entre “olhar” e “ver” (entre buscar e encontrar) leva, ao refletirmos mais profundamente, à ideia de que a visão (e o mesmo ocorre com cada sentido enquanto representação) só se realiza graças à união de duas funções, uma das quais é ativa, ou seja, é a função do espírito que preenche, que forma, e a outra é passiva, sendo a função do princípio corpóreo, ou, como diz J. Böhme, do ser espelho que recolhe a imagem, pois o espelho não gera ou dá à luz a imagem, mas permanece imóvel e capta (recebe) essa imagem. Em nosso processo sensorial externo (animal), não distinguimos, é verdade, o ativo do passivo, porque nosso espírito vital é, nesse caso, um simples instrumento (“ele não age, é feito agir”). Mas é diferente em nossa contemplação espiritual, onde tomamos clara consciência do apelo que nos é dirigido para desdobrarmos uma atividade de colaboração, e, finalmente, na visão divina primitiva, essa atividade se revelará como agente único, o que Kant também afirmava com o entendimento arquitetônico. Ora, J. Böhme faz o espírito absoluto começar por uma contemplação “arquitetônica” de si mesmo desse tipo (contemplar-se — “mirar” — “espelho” — “admirar”), e essa primeira formação interior de si mesmo é, para ele, inicialmente apenas a representação mágica de si pelo Absoluto, enquanto Sabedoria ainda não revelada ou como pensamento tranquilo e ainda não desenvolvido nas profundezas da consciência. E é apenas pelo aniquilamento dessa representação (ao retirar essa visão do espelho) que J. Böhme permite que o espírito absoluto se capture, se fundamente, se compreenda, e essa compreensão de si mesmo é o verbo. Finalmente, assim como esse verbo ou conceito nasce do aniquilamento da representação, da mesma forma esse verbo, enquanto irradia ou espiritualiza (espírito da boca nas Escrituras), serve de intermediário entre a referida representação e a figuração (que surge do verbo ou conceito) ou a manifestação total. (Ver, por exemplo, Encarnação de Cristo, Parte I, os primeiros capítulos.)
Encontro a mesma sequência de ideias na teoria dos números de Martinez Pasqualis. Pois o que está mais próximo da unidade é o 10 ou o 1, como primeira imagem da unidade; e esse 1 é, portanto, idêntico ao que J. Böhme e outros místicos chamam de Sabedoria (em sua forma ainda desprovida de essência ou em sua forma mágica); — e assim como esse 1 é a unidade em sua primeira expansão (primeira expansão que, a rigor, ainda não é uma expansão e é chamada por Saint-Martin de disseminação abissal e por J. Böhme de abismo ou temperatura, já que todas as forças ainda repousam juntas em uma só), da mesma forma o 8 que se segue imediatamente (o número do verbo) representa a unidade na concentração (o ato pelo qual ela se captura a si mesma, o conceito). Na medida em que a queda provocou uma discórdia entre a representação divina (Sabedoria, Ideia) e a figuração externa, fica claro que, quando se tratou de superar essa discórdia, esse mesmo número 8 ou esse mesmo verbo deveria ser particularmente ativo, porque sua função primordial é servir de intermediário entre a representação e sua figuração externa. — Além disso, Böhme e Hegel concordam igualmente nesse ponto, pois ambos distinguem o verdadeiro conceito espiritual vivo (o verbo) do conceito em si desprovido de vida (aquele da forma racional), assim como se distingue o espírito do corpo.
