de Libera (AS:121-122) – o sujeito "lockiano"
A definição lockiana da pessoa, ou, mais exatamente, “daquilo que representa ] a pessoa”: “um ser pensante e inteligente, dotado de razão e de reflexão, e que pode se considerar a si mesmo como si mesmo”, supõe não apenas a definição boeciana da pessoa (rationalis naturae individua substantia/subsistentia), mas também a firme rejeição da definição, apresentada por Edward Stillingfleet, bispo de Worcester, na polêmica ocorrida nos anos 1697-1699: “a person is a complete intelligent substance with a peculiar manner of subsistence” (“uma pessoa é uma substância inteligente completa com um modo peculiar de subsistência”). Essa definição, que foi ensinada ou discutida sob diversas formas na teologia protestante moderna, não é inspirada somente, como assinala Étienne Balibar, na “tradição tomista”: ela faz intervir as noções de “substância completa” e de “subsistência”, que a Segunda Escolástica urdiu em intermináveis controvérsias. O horizonte do debate Locke-Stillingfleet é tão suareziana como muitas outras, continentais, internas à tradição católica. Está ligado à tese típica da Escola segundo a qual a união da subsistência e da natureza constitui o supósito ao qual se podem atribuir ações – uma tese que constitui igualmente o quadro no qual Leibniz trabalha seu próprio conceito da pessoa e recebe o princípio actiones sunt suppositorum, que funda toda sua ontologia da ação. Em suma, há uma escolástica protestante ], e é ela que fornece a Locke seu “campo de presença”.
