O eu finito

(Márcio Suzuki, Suzuki1997)

Essa mesma alternância entre termos opostos seria mais tarde explicada por Schlegel segundo uma antinomia própria ao eu finito: “Se ao refletir não nos podemos negar que tudo está em nós, então não podemos explicar o sentimento de limitação que nos acompanha constantemente na vida senão quando admitimos que somos somente um pedaço de nós mesmos”. O indivíduo é como que uma parte, um pedaço (Stück), fração, fratura ou fragmento (Bruckstück) de si mesmo, que se destaca do todo, mas ao mesmo tempo o pressupõe e quer retornar à unidade do “proto-eu” (Ur-Ich). É assim que, igualmente, quando estão trocando ideias, Amália, Camila, Andrea, Antônio, Marcus, Ludovico e Lotário efetuam, cada qual a seu modo, uma segmentação, uma divisão (Einteilung) desse todo, mas somente compartilhando (teilen mit) suas visões parciais através da comunicação (Mitteilung) podem voltar a recompô-lo. Seria este, aliás, o objetivo declarado da Conversa sobre a poesia: “confrontar visões completamente diferentes, cada qual podendo mostrar, de seu ponto de vista, o espírito infinito da poesia numa nova luz, e todos eles se esforçando mais ou menos, por um lado ou por outro, para penetrar no verdadeiro âmago”.