CONCHE, Marcel. Montaigne ou La conscience heureuse. Paris: Presses universitaires de France, 2007.
Asserção de que a sucessão de acasos felizes, ao consolidar-se pelo hábito, se transforma em uma segunda natureza, constituindo a base individual para uma sabedoria singular.
Ilustração pela experiência pessoal de Michel de Montaigne, que atribui sua própria formação a uma conjunção de dons fortuitos, como uma linhagem honrada, um pai excelente e uma educação branda.
Utilização das figuras históricas da sabedoria, como Catão, Sócrates e Epicuro, não como modelos a serem imitados, mas como padrões de medida para avaliar os limites e as possibilidades da natureza individual.
Adoção de uma perspectiva estética que admira a vida dos sábios como uma obra de arte total, na qual a morte constitui o acorde final harmonioso.
Identificação do grau supremo com uma virtude soberana e alegre, que supera os maiores obstáculos com serenidade e contentamento, exemplificada por Catão e Sócrates.
Crítica à presunção de querer igualar-se aos sábios exemplares, atitude que constitui uma forma de soberba e de desconhecimento de si.
Rejeição da curiosidade intelectual como expressão de um orgulho insensato, que pretende alcançar as causas pertencentes apenas ao governante do universo.
Identificação do descontentamento como uma falta religiosa, uma ingratidão para com a benevolência insondável da qual emanam todas as coisas.
Condenação dos prazeres da crueldade e da embriaguez como exemplos de invenções contra a natureza.
Exaltação da simplicidade do camponês e do animal, como o porco de Pirro, que seguem a “rota da natureza” sem a mediação de um saber reflexivo.
Diagnóstico da insensatez humana como uma multiplicação artificial de sofrimentos, através da antecipação de males, da criação de necessidades supérfluas e da incapacidade de fruir os prazeres naturais.
Crítica ao medo da morte como uma construção artificial e não como um sentimento natural.
Apresentação de duas vias terapêuticas principais contra o temor da morte: a premeditação, que familiariza com a ideia da morte, e a insatisfação, que a ignora completamente.
Condenação do desprezo do ser corporal como a mais selvagem das doenças.
Asserção de que o bem-estar depende do juízo que cada um faz de si mesmo, e não das condições objetivas: “quem o crê de si é contente”.
Caracterização da vida do sábio como uma contínua produção de felicidade através de um “sim” fundamental à existência, independentemente das circunstâncias.
Ilustração pela atitude de Montaigne perante a doença e a dor, mantendo seus hábitos e dissociando-se do sofrimento para continuar vivendo.
Crítica à consciência infeliz, que projeta no tempo a causa de sua infelicidade, alienando-se de seu próprio poder de ser feliz.