Conche (2007) – Montaigne, ciência e sabedoria

CONCHE, Marcel. Montaigne ou La conscience heureuse. Paris: Presses universitaires de France, 2007.

Interpretação do imperativo délfico “Conhece-te a ti mesmo” como pedra angular do projeto filosófico, orientando o homem a discernir sua natureza e seu destino.

Incorporação da máxima montaigniana que busca “a ciência que trata da conhecimento de mim mesmo, e que me instruise a bem morrer e a bem viver”.

Adoção da postura que aceita pintar a si mesmo, renunciando a pretensão de pintar o homem em sua generalidade.

Abstração metodológica do dado revelado para examinar o homem “sem socorro estrangeiro, armado apenas de suas armas”.

Refutação da pretensão humana de ser um animal excepcional, dotado de razão e liberdade em exclusividade.

Aplicação do princípio da analogia, inferindo “de parecidos efeitos parecidas faculdades” para atribuir julgamento, previsão e raciocínio aos animais.

Crítica à teologia natural e à impossibilidade de conceber Deus sem projetar qualidades humanas, por meio de um antropomorfismo inevitável.

Argumentação de que esticar e elevar as qualidades humanas não ultrapassa a esfera do humano, sendo o Deus concebido pela filosofia um ídolo da razão.

Questionamento das leis naturais estabelecidas pelo homem, que mais revelam os limites de sua percepção do que a essência do real.

Destaque para a ininteligibilidade da união entre uma alma espiritual e um corpo massivo, e para o caráter não humano de uma beatitude puramente espiritual.

Identificação dos sentidos como base e princípio de todo o edifício do saber, os quais, no entanto, não desvelam a essência das coisas, mas as transformam segundo a natureza de nossos órgãos.

Valorização do pirronismo como a arte de opor razões contrárias para destruir a dogmática inerente à linguagem afirmativa.

Interpretação dos sistemas filosóficos como “pirronismo sob uma forma resolutiva”, onde as afirmações dogmáticas têm valor de ensaio e hipótese, não de conclusão firme.

Assunção da ignorância como princípio da sabedoria, renunciando à fundação de um saber universal sobre o homem para buscar uma sabedoria à medida do indivíduo.