Cavell (1979) – "Quem sou eu?"

(Cavell1979)

Que eu não posso simplesmente não me conhecer pode ser colocado desta forma: “Eu sou eu” não transmite uma informação. — Claro que não. É uma tautologia, portanto vazia. — Mas para alguns, o conhecimento dessa tautologia, dessa vacuidade, se preferir, é êxtase. (Chamo a atenção mais uma vez para The Senses of Walden, pp. 100-104.) — Então deve existir algo como um êxtase do tédio. — Mas talvez você encontre isso porque não acredita na tautologia. Quero dizer, não encontra realmente que é uma tautologia, mas, em vez disso, a toma como minha resposta à pergunta: “Quem sou eu?”. Mas “Eu sou eu” não é essa resposta. Essa resposta é, ou poderia ser, “Ninguém”. Serve para rejeitar, ou explicar, essa resposta ao dizer: “Eu sou eu”. (Em Ser e Tempo, as palavras de Heidegger para as estruturas da existência do Dasein, palavras que ele chama de existenciais, ele caracteriza como vazias. Ouso dizer que essa é sua compreensão de Nietzsche ter feito Zarathustra, como diz o subtítulo, um livro para todos e para ninguém, ou seja, para o “ninguém” que qualquer um pode ser.) Que eu sou eu, portanto, diz que eu não sou nem mesmo eu — uma visão hilária, ou melhor, extática, da possibilidade de que eu não esteja esgotado por todas as definições ou descrições que o mundo me dá sobre mim. Tudo o que acontece comigo é a minha vida, diz a mulher no final de Deserto Vermelho. Muito bem, mas eu sou quem deve assumir isso. (Não posso duvidar de que há vida no deserto vermelho; chame-o de Marte. Conheço alguns que vivem lá.)