A intolerância quase orgânica à injustiça, mencionada por Albert Camus, manifesta-se como uma reação física e visceral, na qual o filósofo se encontra invariavelmente ao lado dos humilhados e ofendidos, incapaz de repousar diante da miséria alheia, evocando uma perspectiva nietzschiana onde o pensamento é indissociável do corpo que o produz e da biografia de seu autor. Embora Camus, admirador do autor de A Gaia Ciência, recuse a redução simplista de que a obra de um escritor seja apenas o reflexo de sua história pessoal, é inegável que sua aversão à iniquidade não descende de um idealismo transcendental, mas de uma imanência radical que caracteriza sua filosofia, marcada pela ausência de teologia e pela recusa dos jogos conceituais estéreis da filosofia institucional.