(Blondel1934)
«Foi frequentemente observado que a filosofia moderna mudou o ponto de partida da doutrina metafísica e mesmo antropológica: de fato, é somente a partir do século XVII que se pretendeu tomar como ponto de partida o fato da consciência, considerando-o como uma realidade inicial, definida, autossuficiente, de tal modo que parecia necessário começar por esse dado psicológico, como se houvesse, nesse domínio, identidade entre o conhecedor e o conhecido. Ora, isso é uma ficção contra a qual nos precavemos para retornar a um ponto de vista mais antigo, mais conforme ao ímpeto espontâneo do pensamento, mais fértil em verdade. O que é pensado primitivamente não é o fato psicológico em si, mas o objeto misto que combina a natureza e o espírito em um ato comum, que é preciso analisar sem pretender isolar prematuramente os termos unidos em tal ato vital. Assim, retoma-se o fio da tradição e, nesse sentido, o renascimento aristotélico-tomista tem o feliz resultado de nos reconduzir ao que foi justamente chamado de filosofia natural do espírito humano, a metafísica do senso comum, a verdade primitiva e fundamental, segundo a qual o conhecimento não precisa sair do sujeito para alcançar o ser, pois o sujeito e o objeto nos são apresentados juntos, por uma espécie de imediação primitiva que torna impossível qualquer dúvida legítima sobre o valor realista do pensamento.» (La Pensée, inédit, dictée Isambert, 1927)