====== Merleau-Ponty (FP) – corpo não é ... ====== (MPFP) Portanto, o **corpo não é** qualquer um dos objetos exteriores, que apenas apresentaria esta particularidade de estar sempre aqui. Intro II No sujeito normal, o **corpo não é** mobilizável apenas pelas situações reais que o atraem a si, ele pode desviar-se do mundo, aplicar sua atividade nos estímulos que se inscrevem em suas superfícies sensoriais, prestar-se a experiências e, mais geralmente, situar-se no virtual. Intro III Mas nosso **corpo não é** apenas um espaço expressivo entre todos os outros. Intro III Sistema de potências motoras ou de potências perceptivas, nosso **corpo não é** objeto para um “eu penso”: ele é um conjunto de significações vividas que caminha para seu equilíbrio. Intro IV No normal, um **corpo não é** percebido apenas como um objeto qualquer, essa percepção objetiva é habitada por uma percepção mais secreta: o corpo visual é subtendido por um esquema sexual, estritamente individual, que acentua as zonas erógenas, desenha uma fisionomia sexual e reclama os gestos do corpo masculino, ele mesmo integrado a essa totalidade afetiva. Intro V Pois, diante do pensamento, sendo um objeto, o **corpo não é** ambíguo; ele só se torna ambíguo na experiência que temos dele, eminentemente na experiência sexual, e pelo fato da sexualidade. Intro V Portanto, o **corpo não é** um objeto. Intro VI Agora, como vimos, se o **corpo não é** um objeto transparente e não nos é dado por sua lei de constituição assim como o círculo ao geômetra, se ele é uma unidade expressiva que só quando assumida se pode aprender a conhecer, então essa estrutura vai comunicar-se ao mundo sensível. II VI Em suma, meu **corpo não é** apenas um objeto entre todos os outros objetos, um complexo de qualidades entre outros, ele é um objeto sensível a todos os outros, que ressoa para todos os sons, vibra para todas as cores, e que fornece às palavras a sua significação primordial através da maneira pela qual ele as acolhe. II I Como conceber essa mediação do corpo? De onde provém que as relações dos objetos com ele possam determiná-los como móveis ou como em repouso? Nosso **corpo não é** um objeto e não precisa ser ele mesmo determinado sob o aspecto do repouso e do movimento? Frequentemente se diz que, no movimento dos olhos, os objetos permanecem imóveis para nós porque levamos em conta o deslocamento do olho e porque, encontrando-o exatamente proporcional à mudança das aparências, concluímos pela imobilidade dos objetos. II II A despersonalização e o distúrbio do esquema corporal imediatamente se traduzem por um fantasma exterior, porque para nós é uma e a mesma coisa perceber nosso corpo e perceber nossa situação em um certo ambiente físico e humano, porque nosso **corpo não é** senão essa mesma situação enquanto ela é efetiva e realizada. II III Isso significa, em primeiro lugar, que nosso **corpo não é** um objeto, nem seu movimento um simples deslocamento no espaço objetivo, sem o que o problema só seria deslocado, e o movimento do corpo próprio não traria nenhum esclarecimento ao problema da localização das coisas, já que ele mesmo seria uma coisa. III I Se há uma consciência constituinte, o movimento corporal só é movimento enquanto ela o pensa como tal; a potência construtiva só encontra nele aquilo que ali ela colocou, e, em relação a ela, o **corpo não é** nem mesmo um instrumento: ele é um objeto entre os objetos. III I A discussão assim conduzida certamente desacredita a ideia de uma conservação corporal do passado: o **corpo não é** mais um receptáculo de engramas, é um órgão de pantomima encarregado de assegurar a realização intuitiva das “intenções” da consciência. III II