====== Transformação ====== (Jullien2009) Pois não devemos nos enganar sobre a dificuldade que encontramos em pensar a transformação que, por princípio, eu acredito, é sempre "silenciosa". Não se trata apenas, de fato, de uma diferença de escala e grandeza: porque só conseguimos apreender grosseiramente e, por isso, a posteriori e de forma abrupta o que, na verdade, ocorre gradualmente e no infinitamente pequeno; porque, em suma, não temos uma visão suficientemente aguçada ou uma audição suficientemente apurada para distinguir o microscópico. A dificuldade de pensar a transformação deve ser abordada bem antes disso e, efetivamente, nos faz apontar, eu acredito, o ponto preciso em que nossa maneira (europeia) de pensar falha. Essa dificuldade é a de pensar seu próprio ser, que é, em seu âmago, a transição, a qual exprime explicitamente, se eu colocar um termo sob o outro, a "passagem" que permite ir de uma "forma" à seguinte – no entre-formas, por assim dizer – desenvolvendo, assim, o "trans" da "trans-formação". Ora, precisamente porque não é do "ser", a transição escapa à nossa forma de pensar. Nesse ponto exato, nosso pensamento para, não tem mais nada a dizer, silencia, e é também por isso que a transformação é necessariamente considerada "silenciosa". A transição literalmente faz um buraco no pensamento europeu, reduzindo-o ao silêncio. A prova está no que Platão diz, ou melhor, no que ele não diz, sobre isso (a respeito do Uno no Parmênides ]). Como posso, pergunta-se Platão, passar do não-ser ao ser, ou da imobilidade à mobilidade? Estou sentado, depois caminho: como apreenderei essa passagem ou esse entre-dois (metaxu) que o "depois" aqui se limita a indicar, mantendo esses dois momentos justapostos, completamente exteriores um ao outro, de maneira apenas sucessiva? Pois, pronuncia logicamente Platão, ou estou sentado ou caminho, ou é um ou é outro, e não posso participar ao mesmo tempo de um e de outro; ou de nenhum deles: não ser nem imóvel nem em movimento. Assim, o que aqui se chama transição não seria apenas uma contradição nos termos? Por isso, Platão não tem outra solução senão manter a separação estanque entre os dois tempos, o anterior e o posterior: "o tempo é outro" no qual participo da mobilidade, o tempo é outro no qual não participo dela. Mas entre os dois, o que acontece? Platão também não tem outra solução consequente para passar da contiguidade à continuidade, a não ser supor entre eles um instante que não seja nem de um tempo nem de outro e seja, portanto, conclui ele, "fora do tempo". Para ligar um ao outro, o antes e o depois, resta-lhe, então, apenas a solução de inventar esse "repentino" fora do tempo (exaiphnes) que, como tal, efetivamente não tem um "lugar" possível, é "atópico" – tão "estranho"! – e faz, abruptamente, um buraco na continuidade da mudança. Ora, vejo nisso menos uma falha do pensamento platônico, que se leva ao extremo, do que um sintoma. Poderia-se acreditar que esse buraco negro que afeta o pensamento da transição alcança apenas Platão, preso como está em sua teoria da participação das Formas-Ideias e da separação das essências? Aristóteles cedo o criticou e sabemos, por outro lado, que o autor da Física é o pensador da mudança. Contudo, Aristóteles está, no entanto, em melhores condições de pensar o estatuto desse "entre" da transição e da passagem? Consideremos, por exemplo, a nota mediana na música ou o cinza entre as cores. Esta nota mediana "é grave em relação à alta e aguda em relação à baixa", diz Aristóteles; e, da mesma forma, o cinza "é preto em relação ao branco e branco em relação ao preto". Se, portanto, a mudança procede do "entre" ou do intermediário, é porque este, de maneira alguma, deixa de reconduzir para si mesmo, em modo menor, o estatuto de extremo ao servir novamente de contrário a um ou outro oposto; ou, como Aristóteles resume, "este intermediário é, de certa forma, os extremos" (to metaxu ta akra), delimitando também e interligando um e outro. O intermediário é um termo médio, portanto, também um termo, igualmente um terminus. Ele interrompe a meio caminho a mudança e a decompõe, constituindo-se em ponto tanto de chegada quanto de partida, mas não permite apreender melhor como se realiza através dele a passagem.