====== Respirar e espírito-alma, simbolicamente, são a mesma coisa ====== (Groddeck1991) Dessa análise , conclui-se que, para os povos que moldaram a concepção de vida europeia, //Atem// (sopro) é um símbolo do espírito; ou seja, no âmago de sua percepção, consideram ambos como uma única coisa. Além disso, o pensamento hebraico também utiliza //sopro// e //haleine// como símbolo do espírito, reforçando, com todo o peso da tradição bíblica de pensamento e linguagem, a obscura entidade dessa concepção simbólica. Em hebraico, o termo para o espírito de Deus que paira sobre as águas é, segundo me disseram, //mach//. Até aqui, o raciocínio é simples de seguir, mas persiste uma dificuldade: todas as línguas mencionadas têm um segundo termo para significar //haleine// (sopro), por meio do qual também distinguem o ser humano vivo do inanimado. Os hebreus têm //nefesch// (o sopro de Deus, que Ele insufla no primeiro ser humano, recebe esse nome), os gregos têm //psyché//, os latinos, //anima//; a conexão entre o alemão //Seele// (alma) e //atmen// (respirar) não está comprovada, e permanece a questão de saber se também temos essa estranha dualidade, ou se //Seele// é uma tradução correta para o latim //anima// e o grego //psyché//. Não me aprofundarei em investigações infrutíferas sobre as diferenças entre //Seele// e //Geist//, //anima// e //animus//, //mach// e //nefesch//, //psyché// e //pneuma//; poderia, no máximo, remeter ao conto do casamento entre Eros e Psyché. Mas me parece comprovado que, para o ser humano, //respirar// e //espírito-alma//, simbolicamente, são a mesma coisa. Todas as investigações sobre alma e espírito permanecem incompletas em sua essência enquanto não considerarem essa realidade: para determinadas camadas do inconsciente, espírito-alma é a mesma coisa que respirar. Qualquer compreensão dos estados saudáveis e enfermos da respiração e de seus mecanismos será insuficiente se não percebermos que, para os guardiões da saúde e da doença — papel atribuído ao //isso// —, respirar equivale a espírito-alma. Não é difícil intuir por que o pensamento primitivo do ser humano fez de //respirar// e //espírito-alma// símbolos recíprocos — embora, se essa explicação estiver correta, apenas os deuses saibam a verdade. A vida, para essa percepção, começa com a primeira inspiração e dura até que a alma seja expirada. Basta pensar nas imagens medievais que representam a morte, onde a alma às vezes aparece até mesmo com um rótulo ao ser exalada; e até mesmo o Mefistófeles de Goethe ainda se coloca à espreita, esperando que, ao sopro da boca do Faust morto, sua alma se torne visível.