====== Alma e Espírito ====== (Groddeck1991) Com as expressões alemãs //Seele// (alma) e //Geist// (espírito), não há muito o que fazer; //Seele//, no alto alemão moderno, é feminino, //Geist//, masculino — mas isso pouco importa. //Geist//, segundo a intuição de Kluge, poderia estar relacionado ao nórdico antigo //geisa// (enfurecer-se, agir com fúria; gótico //us-gaisjan// — "sair de si"). Isso aproximaria seu significado do radical //man-//, //men-//, grego //mainomai// (mania, fúria, loucura). Kluge menciona também uma raiz sânscrita //hid-// (derivada de //ghizg// — "irritar-se") e remete, nesse contexto, ao inglês //aghast// (estupefato); pelo sentido, isso tenderia ao grego //thymos//. (Poder-se-ia supor que a fumaça, para o sentimento primitivo, era o sopro do fogo colérico.) Kluge observa ainda que //Geist//, em gótico, era //ahma//, proveniente da raiz //ah-//, conservada no alemão //achten// (estimar). Isso é relevante, pois as raízes //ah-// e //oq-// estão conectadas, e o complexo //olho-ver// (latim //oculus//, alemão //Auge//) liga-se a essa raiz //oq-// (ver). O alemão //Geist// assim se relaciona com a noção de "vidente". Sobre //Seele// (alma), também não há muito a dizer, exceto que certamente foi sentido desde o início como feminino: pelos léxicos, poderia estar ligado ao grego //aiôlos// (móvel, agitado). Isso me convém, pois //Aiolos// (Éolo), para os gregos, era o rei dos ventos — e //vento//, //sopro//, parece ser o que há de mais essencial para definir //alma// e //espírito//; embora //aiôlos// e //Aiolos// tenham acentos distintos. A menção ao vento leva-me a um terreno mais fértil. //Vento// em grego é //anemos//, o que conduz diretamente ao latim //animus// e //anima//, sobre cuja distinção se ergueram literaturas inteiras, não apenas de ordem etimológica. Eis então masculino e feminino lado a lado: a raiz desse radical é //an-// (soprar, respirar). Percebe-se que //respirar-vento-sopro// e //espírito-alma// revelam cada vez mais claramente sua pertença à mesma família; o sentimento até diria que são a mesma coisa. E ao latim //animus// (espírito) liga-se novamente a //cólera//: //animadvertere//, que significa "censurar, punir" (alemão //ahnden// — punir), vem dessa mesma raiz //an-// e poderia ser comparado ao termo popular alemão //anhauchen// (literalmente "soprar contra", mas coloquialmente "repreender"). O latim tem ainda outra palavra para //espírito//, onde a conexão com //respirar// é mais evidente: //spiritus//. Todos sabemos o que esse termo, na forma //spiritus sanctus// (Espírito Santo), significou para o desenvolvimento da Europa; ainda significa e continuará a significar por muito tempo. Pois mesmo que nos afastemos gradualmente da Bíblia e da Igreja — o que, até agora, não passa de conjectura —, esse alicerce da vida europeia persistirá e seguirá operando, mesmo que o edifício se reduza a escombros. Para a perspectiva que adoto aqui, //spiritus// é particularmente valioso. Primeiro, porque o inconsciente da língua e de nossa vida, ao materializá-lo no álcool (alemão //Spiritus// — álcool combustível; francês //esprit-de-vin//), fundiu-o às noções de //embriaguez// e //cólera// (alemão //Rausch// — embriaguez; //Rauschen// — rugido do vento). Mas, no momento, outra conexão etimológica me interessa mais: a raiz de //spiritus// é //speis-// (soprar, exalar), e dessa mesma raiz vem o grego //speos// (caverna), em latim //specus//; ora, //specus// liga-se ao latim //speciere// (espreitar), cujos numerosos derivados ainda permeiam nossa vida cotidiana (por exemplo, alemão //Spiegel// — espelho; francês //spéculer//, etc.). Podemos, acredito, diante dessas filiações etimológicas, buscar filiações de sentido; a qual cavidade spiritus poderia estar relacionado? O verbo latino correspondente é spirare, de onde vem respires, que, com o mesmo significado, se manteve até hoje no cotidiano das línguas românicas e, em alemão, na linguagem médica. Isso faz com que os pulmões (latim pulmones) e, consequentemente, a cavidade torácica estejam ligados a spiritus, assim como as palavras animus e anima. Ao spiritus sanctus corresponde, em grego, pneuma hagion (vento, sopro santo). Respirar (soprar, exalar) se diz, em grego, pneo, e pulmão, pneumon. No sentido grego, pneuma também carrega algo da embriaguez e da cólera; no relato bíblico do derramamento do Espírito Santo, a chama aparece como o próprio símbolo do espírito; falar em línguas estrangeiras — as línguas de fogo — também pode ser interpretado como obra do Espírito. No alto alemão médio, o pneuma hagion é chamado heilige Atem (santa respiração), e no alto alemão antigo, wîho âtum. (Cf. sânscrito atman, sopro, espírito.)