====== Conche (2007) – Da sabedoria de Montaigne ====== CONCHE, Marcel. Montaigne ou La conscience heureuse. Paris: Presses universitaires de France, 2007. * Filosofia de Montaigne centrada na fruição da vida Propósito de viver e regozijar-se, com felicidade e liberdade * Viver sem ostentação, com consciência intensificada e concentração religiosa * Consideração do viver como única tarefa humana séria * Necessidade de paz interior e exterior para o sábio * Papel da moral e da política em assegurar as condições da paz * Distinção entre morais finitistas e de exigência infinita Morais finitistas: dever como tarefa limitada, vida como usufruto legítimo após seu cumprimento * Morais de exigência infinita: dever como dívida perpétua que obscurece a vida * Exemplos: moral cristã e moral de Lênin como sistemas de exigência infinita * Para as primeiras, ação moral é acidental à vida; para as segundas, é sua significação * Montaigne alinha-se com as morais finitistas * Moral prática de Montaigne em tempo de crise Conselho de recolher pensamentos e intenções para si mesmo e para sua felicidade * Deveres limitados para com os outros: justiça, honestidade, respeito, ajuda não empobrecedora * Preservação do próprio viver são e alegre como prioridade * Rigor moral: recusa da mentira, manutenção da fé mesmo sob coerção * Proibição do assassínio salvo em legítima defesa * Recusa da traição para salvar a própria vida * Exceções morais apenas para evitar iniquidade maior * Caridade como ato ocasional, não como princípio vital * Moral do honesto homem, acessível a pagãos e cristãos * Rejeição consciente do ideal evangélico Adoção de um ideal "medíocre" à sua medida * Admiração pela caridade alheia sem intenção de imitação * Amor proporcional às qualidades do objeto, inclusive para filhos * Negação do dever de participar do sofrimento alheio * Princípio de estender a alegria e retrair a tristeza * Recusa em carregar-se com os males dos outros * Aceitação da morte como parte da ordem natural * Fuga do sofrimento desnecessário * Contentamento profundo através da fidelidade a si mesmo Satisfação por ter vivido conforme seu dever autoestabelecido * Recusa de se comparar com modelos inatingíveis como Jesus Cristo * Medida das obrigações pelos próprios meios e natureza * Ausência de culpa por ter cumprido seu ideal possível * Contentamento ampliado por ser melhor do que exige de si mesmo * Bondade natural como fonte de satisfação suplementar Composição de sua bondade: piedade, ternura, horror ao sofrimento, incapacidade de odiar * Indulgência para com os malfeitores e dificuldade em punir * Solidariedade instintiva com os que sofrem e com os humildes * Extensão da compaixão aos animais, plantas e toda a natureza * Felicidade de ver viver e participar do contentamento universal * Coragem cívica na defesa dos oprimidos Defesa das crianças maltratadas e dos pobres explorados * Oposição aos julgamentos por bruxaria e à tortura judicial * Condenação veemente da colonização do Novo Mundo * Superioridade moral atribuída aos pagãos sobre os cristãos de seu tempo * Ação que ultrapassa suas próprias exigências morais teóricas * Desconfiança da política e defesa da abstenção Preciosidade da paz interior, incompatível com o engajamento político * Rejeição do dever de participar das lutas políticas * Política como atividade que exige sacrifício da honestidade * Corrupção inevitável das melhores naturezas na política * Superioridade moral da inação sobre a ação política * Conservadorismo político e crítica da inovação Preferência pela estabilidade e manutenção da ordem estabelecida * Desconfiança das mudanças e das "novidades" * Obediência ao governo estabelecido por dever público * Reconhecimento teórico dos méritos da república, mas submissão prática à monarquia * Recusa do risco revolucionário em nome de males desconhecidos * Participação política como exceção necessária Ação política limitada a contextos de crise para conter danos * Mediação e conciliação como tarefas aceitáveis * Preservação da integridade moral em funções públicas circunstanciais * Recusa da paixão política e de projetos de longo prazo * Vida pública vivida como empréstimo, sem alienação da busca da sabedoria